sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que você vai ser quando você des-SER

Ao menino se pergunta: O que você vai ser quando você crescer? Isso se dá porque a criança é vista pela perspectiva do "vir a ser". A criança não é, em nossa sociedade, considerada um ser completo, mas em construção. Sua fala é desprezada, seus anseios moldados, sua opinião é sempre invalidada em detrimento da opinião dos mais velhos. Parece-me que à medida em que se apropria do mundo, dos símbolos, da fala, das artes, do conhecimento, dos diplomas, dos trabalhos, etc, e começa a expressar-se e impor-se diante de todos, é que as consideramos alguém, como um ser. Nesse sentido, vemos que, para nós, alguém é aquilo que faz ou fez, que conquista ou conquistou, que sabe, que domina. Quem não possui tais características ainda deverá "vir a ser", e se virá a ser, é porque ainda não "é".

Para Jesus, no entanto, o "vir a ser" que importa é outro. De Seu ponto de vista é um "vir a descer", ou poderia dizer que seria um vir a  "des-SER". É um caminho de humilhação, para Ele subir é ir para baixo, ser grande é ser o menor, amadurecer é tornar-se uma criança. 

Vir a des-SER, é a desconstrução de tudo aquilo que lhe construiu sem de fato ser você mesmo. O jovem rico não era um rico, nem um piedoso, era um homem sedento pela eternidade, mas negou-a por amar mais aquilo que ele mesmo não era, aquela projeção idolátrica de si mesmo. Vender tudo e dar aos pobres, para ele, era equivalente a quebrar os ídolos do paganismo e do moralismo que se havia nele impregnado como visão de mundo correta. "Minha riqueza é a prova de que Deus está comigo" - talvez ele dizia em seu íntimo - "Sou fiel aos mandamentos". Riqueza, fama e piedade eram para ele o ponto máximo que um homem poderia alcançar, ainda que a alma lhe reclamasse o desejo de vir a ser ("que farei para herdar a vida eterna?"), apresentando-se faltoso, carente de algo.

Os discípulos também se afligiram com o mesmo desejo de "vir a ser", eles perguntaram a Jesus sobre quem seria "o maior no Reino dos Céus". Extremamente inundados por essa visão de mundo competitiva, de opressores e oprimidos, de maiorais, de grandeza. Mas Jesus lhes desanima com a seguinte afirmação:"Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus". Imagine eles querendo saber qual deles era o maior e de repente são chamados a se converterem, do caso contrário nem passariam pela porta do Reino dos Céus. Jesus acaba com o concurso para "melhor discípulo do mês" organizado por Pedrão e companhia, dizendo que aqueles que não estavam inscritos é que deveriam ser imitados. Sim, as crianças, os pequeninos de coração humilde. Ainda não tomados pelo repugnante desejo de serem grandes, ainda não influenciados pelos discursos de "você tem que ser o maior" propagandeados pelo mundo. Apenas cientes de sua pequenez, da miudeza de seu ser, sem ter do que gloriar-se em si mesmo, diante de ninguém.

Por isso é que cabe à todos os que cresceram e se tornaram grandes, que agora sonhem os "sonhos de Deus" para si, sonhem vir a "des-SER" tudo o que construíram em volta de si, e que não é de fato o "eu" deles. Tornem-se eles mesmos, pequeninos, como eram antes de almejarem conquistar o mundo inteiro para si. Sejam o que eram antes de terem perdido a própria alma com a finalidade de conquistar todas as coisas à sua volta. Sim, é possível conquistar o mundo inteiro e se perder eternamente. Sim, sejam pastores de ovelhas ao invés de administradores de empresa no comércio da fé. Sejam homens que amem suas esposas e filhos ao invés de ambiciosos correndo atrás do conforto inalcansável. Sejam pecadores salvos pela graça ao invés de religiosos caçadores de prosélitos para uma fé que nem mesmo vivem. Sejam que eram antes de almejarem tornar-se grandes conquistadores.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Quem diz que é já deixou de ser


É claro que devemos manifestar nossas obras diante dos homens a fim de que o Pai seja glorificado, mas se para isso tivermos que agir tagarelando que "é para Deus" o que estamos fazendo, justificando nossas atitudes com nossas teologias, filosofias de vida,etc, não estaremos sendo nem um pouco diferentes dos religiosos que vivem em busca de prosélitos para sua religião hipócrita e destituída de sentido. E nisso estaremos passando longe da religião de Jesus. Sim, pois, para Ele, as obras de justiça que glorificam ao Pai são aquelas que "excedem em muito" às aparentes obras auto-justificatórias dos fariseus. Nada para ser visto, nada para ser justificado, apenas justiça por justiça, sendo resultado da justiça divina no mais íntimo do que crê. Esse não precisa dizer: "Estou te dando esse pão em nome de Jesus", ou "estou te perdoando porque Jesus mandou", ou ainda qualquer outro "eu faço isso porque sou cristão". Ora, se você tem que dizer que é, já deixou de ser. 

Devemos, ao contrário disso, viver fazendo o bem como quem fora de fato enviado por Cristo, por um constrangimento interior, não por um dogma frívolo e ególatra, não por um ideal castigante que nos seja imposto exteriormente. Devemos perdoar pelo constrangimento do amor que se revela por nós na Cruz, não por uma ordenança destituída de sentido, uma obrigação imposta, um "eu não quero perdoar, mas Jesus mandou", é o amor que nos constrange. Devemos crer e ser (e assim crescer) à partir do que cremos, e não justificarmos o que não somos utilizando aquilo que dizemos crer como discurso para nos justificar.

É por estar nosso cristianismo por muitas vezes acima de Jesus que nos vemos assim esquizofrenizados espiritualmente. Carregando aquela culpa por ter sido útil a alguém, mas não ter falado de Jesus para a mesma pessoa; sentindo-se o mais covarde de todos os homens pelo fato de não ter feito um apelo para que o mendigo "aceitasse a Jesus como Senhor e Salvador" depois de ter lhe dado algo para comer; é por isso que enchemos a paciência de nossos professores em sala de aula, com discursos emburrecidos e ofensivos, pois se apenas formos seres inteligentes e realmente compromissados em fazer o bem através daquilo que estamos estudando, estaremos "amando demais a esse mundo" e "esquecendo da eternidade".

É por isso que somos chatos, e que nossas obras não glorificam a mais ninguém além de nós mesmos, através de nossa religião. Nosso gozo está no crescimento do número de membros em nossas igrejas, de modo que os mendigos só ganham valor para nós quando se encontram em duas condições específicas. A primeira é na condição de "mendigo" mesmo, alvo de nossa compassividade hipócrita, oportunidade para que satisfaçamo-nos com o gozo dissimulado dos que encontram nele somente a oportunidade de fazer valer sua religião. A segunda é a condição de "ex-mendigo" quando estão dentro de nossa igreja, bem vestidos, alinhados e carregados dos mesmos jargões que usamos, afim de que possamos apresentá-lo aos outros irmãos, como se fossem os nossos "micos de circo", aqueles a quem "evangeli-mesticamos" (ou "domesticamos com nosso evangelho"). 

Não me importo em falar assim, pois se você não é um desses (diferente de mim), então não se sentirá nem um pouco incomodado, mas se é um desses (assim como eu), então precisa repensar o modo como tens caminhado no Caminho. Oxalá aprendêssemos a viver com o samaritano da parábola, pois ele não deixou no hotel um recado (para o homem que encontrou ferido) escrito assim: "Tem um monte ótimo para adorar ao Senhor logo ali em Samaria, apareça, espero por você. Att. O samaritano que cuidou de você, ao contrário dos judeus que nada fizeram. Paz do Senhor".   

domingo, 3 de junho de 2012

O evangelho segundo os moleques de pinto "en-cãibra-do"


A partir da idéia de Heráclito, o psquiatra C .G. Jung, explicou a revolta do espírito dos homens e mulheres modernos diante da exaltação dos valores deste mundo em detrimento dos valores espirituais. Jung afirmava que a alma humana é movida por opostos, necessidades e instintos, e que a tensão entre eles é o elemento gerador de vitalidade e criatividade. Seguindo essa lógica, toda vez que uma tendência oprime o seu oposto, essa tal tendência oposta, em algum momento inicia uma revolta, afim de encontrar novamente o equilíbrio. 

Como a opressão de um castigador desperta a revolta do oprimido, assim também se comporta o espírito humano quando oprimido por alguma tendência. Por isso, o triunfo do racionalismo, construiu um mundo de pessoas desiludidas, famintas pelas "coisas do espírito", e que agora reinvindicam o direito de simplesmente "sentir", de descobrir-se, de navegar pelos misteriosos mares de sua existência.

Pensando nisso, o que dizer sobre os anos de mutilação, de padronização dos indivíduos, de arregimentação manipulativa por parte das instituições eclesiásticas? Que tipo de revolta essas não provocariam no espírito humano? Não me espanta a tão frequente desistência por parte de muitos, em construir uma vida religiosa "dentro" de uma Igreja. Está crescendo o movimento "ser Igreja", guiado pela necessidade de dedicar atenção aos oprimidos deste mundo, exaltando o amor como única Lei suprema, abandonando os dogmas e valorizando o encontro com Deus na interioridade. Essa é a tentativa do espírito humano de equilibrar as coisas. Ora, deste movimento sou adepto, pois para mim jamais houve outro movimento senão esse mesmo. 

O que me preocupa é que outrora me alegrei ao ver os que despertavam para o real sentido do Evangelho e que viam para além da hipocrisia institucional, mas hoje entristeço-me ao ver o rumo que alguns tem tomado. Esses que, tendo começado bem, estão terminando mal, e muito mal, vêm nulificando a própria existência, presunçosamente cavando com os pés seus próprios abismos. Correndo para o extremo oposto do que se tem visto em muitas instituições religiosas, como a alienação social, a coagem dos mosquitos aliada ao saboreio dos camelos, a dominação dos líderes sobre seus liderados, a ideologia do "Deus disse para não comerdes de toda a árvore do jardim (Gn. 3: 1)", cujo idealizador foi o próprio Satanás; e nessa corrida, estão abrindo-se para o ativismo, para o "tudo pode" inconsequente, para o "ninguém é de ninguém", e assim não vão sendo nem mesmo de Cristo. São pirralhos, deviam se unir ao cantor Alexandre Pires em sua indagação: "O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade [...]?". Parece que não sabem viver livres. 

Tais são moleques de pinto "en-cãibra-do", pois viveram uma vida tão regida pelas normas da religião, pelas tormentas culpabilizadoras, pelos "não pode", que agora resolveram chutar o pau da barraca, se tornarem livres de todo comprometimento com a Lei, relativizam-a toda. São como moleques que, de tão reprimidos, quando se vêem livres das proibições neuróticas, das endemonizações sexuais, passam a sofrer de "cãibra no pinto", decorrente de suas tantas masturbações existênciais.

Descobrem que beber não é pecado como lhe haviam anteriormente ensinado, então enchem a cara, pegam todas, curtem suas baladinhas descompromissadas, e vão cuidar dos pobres no dia seguinte (afinal é SOMENTE isso que importa, não é?). Se afastam tanto da fé, que já não mais oram, pensam que é tudo neurose religiosa, lêem a bíblia somente para debatê-la, pois agora tem Marx para ampará-los. Por compreenderem (e corretamente o fazem) como malina a dicotomia sagrado x profano, lançam-se à profanidade, não acompanham o Mestre nem uma hora sequer. O apóstolo Paulo desesperançosamente, lhes diria: "Assim como nunca me obedeceram, sei que muito menos agora em minha ausência, virão a me obedecer, pois não tem temor algum por coisa nenhuma". Não suportam uma única exortação. Abandonaram todo e qualquer referêncial.

Moleques! Saibam que não fomos chamados para a hipocrisia, e muito menos para a libertinagem. Não sabem que quem serve ao pecado é dele escravo? E a quem vocês servem? Veja como gozam e já não sentem prazer algum, como estão presos a Cristo somente por discurso, mas fazem do próprio corpo instrumento de impurezas, e da vida razão de escândalo para os pequeninos. Peço a vocês que relativizem sim todas as coisas, mas relativizem-nas pelo amor. O amor é capaz de relativizar toda ética e moral, qualquer outro sentimento que busque fazê-lo, levedará toda a massa, principalmente a presunção sapiencial. Pois, de que vale saber que não é pecado ouvir "música do mundo"? Somente o prazer de desrespeitar os mais conservadores? Tentarás a consciência alheia porque a sua está limpa? Como lhes mostrarão a verdade? 

Vejam se não é assim que muitos tem vivido. Fogem da vigilância ditatorial das instituições hipócritas, afim de se verem livres para agirem como quiserem. São libertinos. Julgam saber muito, mas nada sabem como convém saber. Seus ancestrais são os coríntios, inchados pelo saber, de tal modo arrogantes, permitem entre eles impurezas tais que escandalizam até mesmo os incrédulos.

Irmãos, não fale em amor sem amar. Em amor, o Mestre sujeitou-se à Lei e também enfrentou seus defensores (da Lei) quando fora necessário, mas em tudo buscou salvar a todos. Assim como Paulo, que O imitou, busquemos, não o nosso próprio querer, mas o de muitos, para que sejam salvos. A todos que outrora tinham a religião como vosso senhor, assenhoreiem agora e sempre a Cristo em vossos corações, com temor e tremor, pois a Ele, todos prestaremos conta. 

Por mais um dos que nEle lutam para manter-se equilibrados num mundo de opostos. 

Os mais que infelizes

Há uma felicidade maior que a de um cego que passa a ver, que a de um paralítico que passa a andar, que a de um cativo que se torna liberto. Sim, essa é a proposta de Jesus nos evangelhos, visto que o “levanta e anda” que Ele disse ao paralítico, foi tão somente para que os "da platéia" cressem, enquanto ao que carregava a vergonha e o peso de culpa imposto por aqueles que o viam como um pecador mais pecador (pelo fato de ter de ser carregado para ir a um lugar ou outro), bastava ouvir: “os seus pecados estão perdoados”, e nisso encontrara felicidade maior que vida. Sim, a Graça é melhor que a vida, posto que sem a Graça, a vida, ainda que repleta de mecanismos produtores de felicidade, não tem graça nenhuma, perde o brilho, não se faz suficientemente satisfatória. 

Ora, para o paralítico não era uma vergonha ser paralítico, o que tornava sua condição vergonhosa era a estrutura social na qual estava inserido, eram as zombarias das crianças ensinadas por seus pais a vê-lo como um maldito, esquecido de Deus. Era a impossibilidade de alcançar perdão da parte de Deus, visto que não devia ter condições financeiras para comprar o perdão que se vendia nos templos. Isto posto, imaginava-se então, que somente um milagre poderia apagar a vergonha daquele homem, somente se ele passasse a andar, arrumasse um emprego e com seu salário pagasse um sacrifício no templo, pela mediação dos sacerdotes, receberia então o seu perdão. O Filho do Homem, no entanto, tem poder para operar milagres, mas ainda mais, o maior milagre de todos, o que é impossível aos homens, mas possível a Deus, o de salvar a alma, de perdoar os pecados. Talvez a ciência se ocupe de reverter as outrora irreversíveis condições humanas, fazendo paralíticos recuperarem movimentos, cegos tornarem a enxergar, medicando as doenças psíquicas, antes tidas como possessões demoníacas, mas perdoar pecados é coisa que só Deus faz. Nisso reside a felicidade maior que a vida, e daí mesmo nasce um caminho de felicidade elevada acima das alegrias que se pode sentir nesse corpo.

É o que o Mestre propõe ao proferir suas bem-aventuranças. Rodeado por ex-cegos, ex-paralíticos, ex-endemoninhados, Ele começa dizendo-lhes uma lista daqueles que são “mais que felizes”. Mais felizes que os que tiveram sua condição de tristeza transformada, cujo lamento tornou-se júbilo, cujo corpo deixou de ser dominado por espíritos malignos, Ele diz, são os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, os perseguidos por causa da justiça e pelo nome dEle. Ele está dizendo que a maior felicidade não reside no fato de sermos “ex-alguma coisa” e sim em acolher no coração o Reino de Deus, tendo-o como preciosíssimo para a sua existência. Isto de tal maneira que viver aqui não seja em busca do aplauso dos homens, nem das fortunas, nem se gloriando em suas próprias obras, mas gloriando-se nEle, como um mendigo que exulta em gratidão ao que lhe estende a mão em ajuda; que viver aqui seja em lamento pela condição desse mundo caído, cônscio da infinita distância que há entre aquilo que somos e o que deveríamos ser; que viver aqui seja lançando a Deus o direito de vingança, de tal modo que o prejuízo vivido não seja compensado com o ódio; que se tenha fome e sede por equidade, pela verdade; que a misericórdia brote no coração do que compreende-se necessitado de receber a mesma misericórdia da parte de Deus; que o coração não carregue as máculas do ódio, da condenação; que façamos paz e não guerra; que as perseguições não nos façam esmorecer no propósito de tornar reais todas as bem-aventuranças anteriores; que a perseguição por parte das trevas seja razão de alegria, pois apenas nos mostram que estamos no correto caminho.

Mas quero alertar que o contrário disso é também possível. Pois se há como ser mais que feliz, há também como ser mais que infeliz. Sim, há sempre como ir mais fundo que o fundo do poço. Há uma desgraça maior que qualquer sofrimento. Há a possibilidade de se ter saúde, riqueza, autonomia, e ainda assim viver mais infeliz que um pobre escravo doente. Nesse caso, se lermos as bem-aventuranças ao avesso, encontraremos a receita para a infelicidade mais profunda, e, pasmem, tem muita gente que segue essa lista à risca.

E aí está ela, a receita para uma vida de infelicidade profunda: Se pense agradável a Deus por si mesmo, ame os aplausos dos homens e as riquezas deste mundo, viva sempre uma vida estética, maquiando-se para receber os elogios dos homens; aliene-se de tudo o que causa dor na alma, vista a mais sólida armadura da indiferença, de modo que não derrame uma lágrima sequer por coisa alguma, sim, preserve sua vida com tudo o que puder; viva a retribuir o mal com o mal; ame a mentira e o engano, desprezando tudo que se possa chamar de justo; não se veja necessitado de perdão algum, e assim torne-se, portanto, livre da responsabilidade de aceitar a imperfeição de teu próximo, sim, se pense perfeito, encha-se de tal arrogância e presunção; aceite como naturais as máculas em seu coração; tenha sempre o desejo de oprimir e dominar sobre outrem; não opte pela justiça, antes, preserve sempre a si mesmo (cabe dizer isso novamente); e por fim, assuma seu lugar em meio à multidão dos que zombam dos profetas e não lhes dão ouvidos, prepare sua melhor pedra e arremesse no meio da testa de alguém que fala segundo a verdade. Sim, siga essa lista e seja “mais que infeliz” em sua existência ou considere tudo o que Jesus falou, crendo, sendo e assim crescendo na Graça e no conhecimento de Deus, desfrutando daquilo que seja a mais intensa forma de ser feliz.

Por mais um dos que sabem que há uma felicidade maior que tudo na vida.  

quarta-feira, 28 de março de 2012

Sem limites



Alguém dirá ser uma criança limitada ao considerar todas as coisas que um adulto pode fazer, mas quem dirá ser um adulto limitado por não conseguir sentar-se a brincar com os amigos? Há coisas de crianças, e há coisas de adultos, mas se compararmos um com o outro, ambos se mostrarão limitados. Dizem haver deuses e homens, e que homens são limitados em comparação aos deuses, mas já se questionaram se os deuses não são limitados se comparados aos homens? Um deus que só consegue ser deus está limitado às coisas que dizem respeito à sua divindade, tanto quanto um homem que não pode ser nem tornar-se divino. Homens são, portanto, limitados porque não podem ser deuses e deuses, por sua vez, são limitados porque não podem ser homens. 

Mas pode um adulto romper os limites de sua maturidade e tornar-se novamente criança? Pode uma criança crescer e tornar-se adulta? Claro que sim. Mas escândalo seria afirmar que pode um Deus tornar-se homem, assim como afirmar que homens podem tornar-se deuses em Deus. O Divino na carne, plantou no homem a semente divina. O Verbo Encarnado, tornando-se semelhante ao homem, feito menor que os anjos, não pode ser considerado limitado por isso, justamente o contrário, é o fato de Deus tornar-se homem que Lhe faz transcender a todos os limites possíveis. Um deus que só é deus está limitado se comparado aos homens. É frio, indiferente, distante de suas criaturas, de seus conflitos. Mas um Deus que torna-se como os que Ele mesmo criou, prova que desconhece plenamente qualquer coisa que se possa chamar limitação.

E ainda, enquanto homem, quando Ele chora, se angustia, ama, se compadece, se entriste e enraivece, ou ainda se cansa a ponto de cair em profundo sono, ou apresenta desconhecimento intelectual acerca de coisas que devem estar ocultas a toda a humanidade, não está apresentando qualquer limitação, mas prosseguindo para além dos limites dos homens que, sendo humanos, menosprezam e perdem sua humanidade. Sim, limitado é o homem que não consegue chorar, que não se entristece, que não se angustia, que não ama, que não teme, que pensa não ter o direito de dizer que está cansado, que não aprende com o outro, que não apresenta a capacidade de se humilhar, que não aceita o fato de não lhe caber o entendimento acerca de todos os mistérios. Esse conhece os limites da arrogância, da presunção, da soberba, do orgulho, da inveja, do ódio. Tais coisas são limitadoras. O que é bom, ainda que pareça ser limitado, não o é, pois vai, por vontade própria, até onde quer ir. Quando o Mestre disse ao Pai que fosse feita a vontade dEle, não estava apresentando qualquer limitação, mas estava rompendo os limites do orgulho humano, da auto-suficiência. Se fomos criados para estarmos sujeitos a Deus, submetermos à Ele nossa vontade é onde reside a real liberdade e a total ausência de limites.

Assim como uma criança deve brincar ao invés de trabalhar, desfrutando da total liberdade que os jogos lhe propõem, estando livre de ser chamada de limitada por isso, também o homem-Deus que foi "obediente até a morte" jamais desfrutou de qualquer coisa que se pudesse chamar limite, antes, foi além de tudo o que poderia limitá-Lo, seja como Deus e como homem.

Como Deus, Ele tornou-se próximo, compadecido de nós, e sendo homem, tornou-se perfeito humano, livre das limitações dos "adultos". Há os deuses dos mitos, que são limitados, que não conseguem compadecer-se da dor dos homens, que não descem dos céus, que não vêm até os homens, que não sofrem suas dores, esses, de fato, não são deuses, mas o Deus que se faz Sumo Sacerdote e, sendo homem "santifica a Si mesmo", Esse é, sem dúvida alguma, o Deus verdadeiro.

O que tento afirmar aqui é o fato de ser limite para um deus tornar-se como sua criatura, assim como é limite para um homem não ser capaz de exercer a plenitude de sua humanidade, de modo que o homem que não consegue ser plenamente humano e o deus que não pode ter marcadas em si as dores de suas criaturas são igualmente limitados. E concluo dizendo que Jesus foi mais Deus do que qualquer outro deus, e mais homem do que qualquer outro homem, Ele foi Deus e Homem...sem limites.

Por mais um dos que creem no escândalo da Encarnação de Deus.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Todos os pecados dos homens lhes serão perdoados, exceto...

A blasfêmia contra o Espírito Santo, a negação da Verdade, o descrédito dado àquilo que se credita simplesmente por não querer crer. Isso mesmo, os fariseus dissimularam contra a Verdade que se confirmava diante de seus próprios olhos, tiveram o vislumbre da glória de Deus a revelar-se no Filho, que, encarnado, efetuava obras por onde passava a fim de confirmar Sua autoridade.

O testemunho do Pai, as palavras de sabedoria, o proceder de Seus filhos, era inegável que o Espírito de Deus estava sobre Jesus. O próprio Nicodemus afirmou isso. Mas, tomados por inveja e ódio, movidos por seus interesses políticos, os religiosos tentavam a todo custo não crer naquilo que não tinham como negar: que sobre Jesus repousava o Espírito Santo.

Daí a afirmação dos fariseus ser tão infeliz, pela carga de hipocrisia que carregava. Ora, possuídos por sua dissimulação, eles não poderiam crer em Jesus, não poderiam receber o Reino, não poderiam ser lavados por Suas palavras, e assim, permanecia sobre eles a condenação.

Sem lavar-se, o homem permanece sujo. Por isso, o que, à semelhança dos fariseus, blasfema contra o Espírito, permanecerá atormentado pela culpa que "não lhe será removida".

Haverá para eles outro Cristo? Outro sangue há que seja preferível ao blasfemo, que possa ser derramado para que o mesmo nele se lave? O poder de Deus estava manifestado ao mundo em Jesus, de modo que todos se maravilhavam, alguns, inclusive os de Sua casa, consideravam-no louco, outros, dissimulando contra a Verdade, desprezavam a graça que lhes fora concedida, vendo o que muitos profetas desejaram ter visto, não quiseram enxergar o que era evidente diante de seus olhos, estes o consideravam porta-voz do inferno, o Belzebu.
Por isso não podem ser lavados, pois assim rejeitaram ser, de modo que sobre eles permanece a condenação. Assim, todo pecado será perdoado, menos o de não banhar-se no Sangue precioso, de não lançar-se no Teu mar de Graça, de desprezar Teu amor, de negar que Deus perdoa os pecadores, mesmo vendo-O perdoá-los. Quem assim blasfema contra o Espírito do Evangelho, permanecerá debaixo de condenação.

Por mais um dos que não vêem outra possibilidade, diante da glória que se-nos revelou, senão a de crer no Deus da Graça.