quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A consciência de um pecador arrependido

Não tenho dúvidas de que Judas não tornaria a trair Jesus, de que seria homem íntegro e reto em sua escolha, mas ainda assim, penso que ele não estaria inundado pelo real arrependimento, pelo "arrependimento salvífico" - entre aspas por não ser o arrependimento a essência da salvação, mas a resposta humana diante da justiça divina revelada em Cristo -, pelo arrependimento produzido pelo Espírito, pelo real convencimento de seu pecado. Pedro, todavia, mesmo após o perdão de Jesus, poderia ter errado de novo, mas ainda assim estava preenchido pelo real arrependimento. Jesus disse que o Espírito nos convenceria do pecado, do pecado por não crer Nele (João 16: 8-9), de modo que ser convencido do pecado pelo Espírito Santo, não tem nada a ver com aquela menina que se pune, ao ter o desejo de usar um batom vermelho, por ter uma consciência religiosa baseada na doutrina de sua igreja acerca dos usos e costumes, nem com a decisão daquele alcoólatra em parar de castigar sua própria alma com seus vícios, antes, tem total relação com a consciência de que só permanece em pecado aquele que não crê em Jesus, pois aquele que crê será salvo e já não mais perecerá, está justificado, sabe-se pecador, angustia-se com suas falhas, mas descansa tranqüilamente nos braços do Pai, pois sabe que chegará o dia em que se livrará do corpo dessa morte, chora por seus pecados, mas não se deprime até a morte, pois sabe em quem confia, e a Este diz: “Compadece-Te de mim, ó Deus, segundo a TUA benignidade; e, segundo a multidão de SUAS misericórdias, apaga as minhas transgressões (Salmo 51:1)”.

Esta é a consciência espiritual do pecado, é a consciência do Evangelho, que só se instala naquele que é convencido por Deus, que é transformado pelo Espírito, e por isso, abandona a pretensiosa esperança de limpar, por si mesmo, a própria mente, que larga seus fardos, que não se acusa, que não se oprime, que não se enfada, que enfim permanece livre para caminhar no Caminho que é Jesus. De outro lado, temos a consciência natural acerca do que é pecado. Esta é formada pela sociedade, pelas experiências vividas, pelas reflexões filosóficas e teológicas e pela caminhada espiritual, seja ela qual for, ou seja, por tudo aquilo que cria, transforma e desenvolve a moral de um homem. É um dom comum de Deus, é a capacidade de analisar, compreender, julgar, reter ou excluir, absorver e viver a partir do que for absorvido, mas que nunca é bem utilizada pelo homem caído, dela flui o legalismo e a depressiva, acusatória, aprisionadora e angustiante consciência. É a consciência do karma, da penitência, da autoflagelação, que espera outra chance onde poderá fazer diferente, corrigir suas falhas, acertar seus erros, pagar seus pecados com sofrimento próprio.

Judas é o exemplo de um homem escravo de sua consciência natural, aprisionado por sua culpa, que arrependido e disposto a voltar atrás, tentou limpar-se comprando de volta o sangue do homem que vendera, e, não conseguindo, deu sua própria vida para tentar salvar sua alma, achou-se digno de ser sacrifício e assim fez-se diante de Deus, tentou mostrar que estava angustiado até a morte, e foi até a morte para tentar convencer-se e convencer a Deus de seu arrependimento, enquanto do outro lado temos Pedro, um homem considerando-se indigno, que desiste de si e desanimado volta para suas redes, que se alegra ao ouvir que tem uma segunda chance, que desfruta do gozo do perdão, e que segue o Caminho contrário a seu caminho anterior sem a pretensão de ser perfeito para ser aceito, sem achar que pode oferecer sacrifício que sirva para justificar-se, sem apostar em si, sem promessas maiores que ele mesmo (“pelo Senhor vou até a morte”), mas consciente de quem é, caminha sobre e sob o perdão do Mestre.

Um é homem natural, o outro, homem espiritual. Um é escravo de sua culpa, o outro, livre para sempre, justificado. Um, vê-se merecedor de uma segunda chance, o outro, acha que merece o juízo. Um, cheio de justiça própria e arrogância, tenta pagar sua dívida, o outro, é tão pobre de espírito que tem como única esperança de justificação o perdão dAquele que é misericordioso o suficiente para o pode perdoar. Dito isto, tenho por certo que o arrependimento espiritual ocorre quando o homem desiste totalmente de ser quem é, e se apega Àquele que É. Quando abre mão de si e se junta ao Outro, que é Jesus, quando se esconde Nele, quando não mais promete que vai mudar e apenas passa a sofrer uma mudança constante de mente, pois esta está inundada com a consciência de que só pode ser, crescer, livrar-se e lavar-se em Cristo.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que descansam Nele.