segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A multiforme manifestação do legalismo


Um pulsar desenfreado da natureza humana que conduz todo homem a transformar a mais pura e boa obra no mais pervertido e distorcido ato, isso é o legalismo.

Não há coerência entre a atitude e a intenção, entre o que se faz externamente e o que é internamente, entre o que se pensa e sente e o que apresenta aos outros. O legalismo é o cumprimento aparente daquilo que se nega interiormente, é balançar a cabeça afirmando que sim, e dizer no coração que não, é limpar o exterior do copo e deixar o interior sujo (Mt. 23: 25), é parecer justo e por dentro ser cheio de hipocrisia e iniqüidade (Mt. 23: 28), é enganar-se a si mesmo e fingir que não está sabendo de nada.

E a conseqüência disso é exatamente o que se pode esperar: uma busca constante por ser visto fazendo aquilo que não quer fazer, pois no fundo o legalista sabe suas intenções, ainda que as ignore, mas externamente não quer permitir que ninguém mais saiba, antes quer destes receber todo aplauso e elogio possível, a fim de que seja por eles convencido de que na verdade não é tão mal assim (Mt. 23: 5). Isso quer dizer que um legalista não se admite como é, e por isso busca na Lei sua justificação.

E não somente isso, mas ao preencher o ego com todos aqueles aplausos que eles mesmos sabem não ter merecido, mas que de tanto recebê-los acabaram por se tornarem altamente soberbos, conseguindo inclusive enganar-se, e estando nesse novo posto, de ser admirável, se percebem no dever de instruir todos os outros pobres pecadores a caminharem por seus caminhos. Por isso amam serem ouvidos, amam ter a razão de todas as coisas, amam ter a Lei em seus lábios, amam o que tem a dizer ao mundo, amam sua importância na vida daqueles que se perdem (Mt. 23: 6-7), e assim passam de miseráveis hipócritas, que buscavam com todas as suas forças ignorar sua própria miséria, a arrogantes prepotentes que tem por missão ganhar todo o mundo com sua hipócrita verdade.

Todavia como tudo aquilo que falam não cumprem, atam fardos aos outros que eles mesmos não tocam (Mt. 23: 4), machucam e escravizam os outros exigindo que carreguem mais do que podem carregar, pois não sentem o peso sobre seus próprios ombros. As palavras lhes saem da boca com leveza e facilidade, mas caem sobre os ombros dos outros com peso, dificultando-lhes a caminhada. Desconhecem o efeito de suas palavras e regras sobre os outros porque eles mesmos não as cumprem, pois já se acostumaram a falar e não agir.

Assim também preservam sua imagem, visto que onde se encontram nenhum de seus guiados poderão chegar, se mantendo sempre por cima, sempre se exaltando, e em se exaltando pisam naqueles a quem põe abaixo de si, e assim também cumprem hipocritamente sua missão de salvação do mundo.

Minha oração é para que o Senhor não permita que busquemos fugir de nós mesmos na Lei, antes que seja a Graça dEle o nosso refúgio, que sendo alcançados por tal Graça seja de todo modo excluída em nós a jactância e assim não venhamos a maltratar outros que buscam caminhar o Caminho que nos foi proposto. Seja Ele nosso Justificador para que dEle seja toda a glória eternamente, amém.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que buscam refugiar-se Nele, a fim de se libertar de sua própria hipocrisia.