terça-feira, 15 de março de 2011

Só sei que nada sei


“Quem há que possa discernir as próprias falhas? Expurga-me das que me são ocultas.” Salmo 19: 12

Quem pode discernir a profundidade do mal que em si habita, ou quem pode compreender a altitude do bem que é apresentado em seus atos?

O que é certo ou errado diante de Deus?

Como compreenderei completamente os pensamentos mais elevados que os meus? Acaso conheço a mente de Deus?

Com os judeus está a Lei escrita em tábuas, a fim de trazerem à tona a sujeira oculta no povo infiel. Com as outras nações está a Lei escrita nos corações dos homens de bem que se fazem exemplo para os que vêm após eles, e assim, são todos acusados, judeus e gentios, pela consciência que se eleva em direção ao Eterno.

A Lei apenas me apresenta que não posso cumprir “A Lei” que ainda não conheço plenamente, mas apenas em parte: o Amor. Ninguém é o fim de si mesmo, não há coração que suporte, sem aflição, viver assim. Quem pode contrariar essa Lei, algum judeu ou algum gentio o fará? Há índios, africanos, europeus, esquimós ou qualquer outra raça onde existam indivíduos capazes de viverem felizes apenas vivendo de si para si mesmo?

Eu nasci para viver para O Outro e para o próximo. E se o bem se cumpre no próximo, então não posso apresentar nada em mim que confirme o bem que fiz. O bem termina no próximo, ele sabe o bem que eu o fiz, não eu. Quando algum bem é realmente executado, a mão esquerda não conhece o que fez a direita. E vivendo assim, quantas vezes direi que “fiz o bem”, ou quantas vezes direi que “fiz o mal”? Dentre estas, quantas vezes compreenderei o mal que fiz?

Se o homem faz o bem que sabe, como disse certo filósofo, mas nunca sabe a plenitude do que é o bem, então o homem jamais poderá fazer o “bem” em sua totalidade.

Há em mim falhas impossíveis de serem discernidas por mim mesmo, pois sou alguém que jamais conseguirá compreender a totalidade da Lei divina, e se assim é, então sempre necessitarei dizer ao Senhor: “expurga-me das falhas que me são ocultas”. Por isso, quando faço tal confissão, admito quem sou, ainda que sem saber totalmente quem sou, sou pecado, até onde conheço e sei que isso se estende para muito além de onde posso enxergar.

A perfeição só se terá na glória, onde O veremos como Ele é, e nos tornaremos como Ele, pois ali sim veremos em completo a Lei, o Cristo em toda Sua glória, e se como homem Ele encarnou tão grande amor, distante de qualquer outro que já haja passado por este mundo, estabelecendo um padrão digno de ser invejado por qualquer mestre espiritual, quanto maior e mais esplêndido será vê-Lo em Sua plenitude. Aleluia!

E assim, não saberemos jamais o bem nem o mal que fazemos, não conheceremos o bem porque ele não termina em nós, nem o mal porque não somos capazes de compreender o bem totalmente a ponto de deixarmos de praticar o que é mal, assim mesmo será no dia do juízo, quando ovelhas e bodes, justos e injustos perguntarão ao Senhor: “Quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber?” (Mateus 25: 31).

Não seja, portanto, prepotente ao ponto de estabelecer juízos quaisquer que sejam, pois quando assim fazemos nos comparamos a crianças de fraldas tentando construir um edifício de trinta andares com um balde de areia e uma pá de brinquedo em mãos, pois não temos material suficiente para julgarmos coisa alguma, uma vez que não conhecemos a plenitude da Lei nem o bem completamente, nem temos capacidade de faze-lo, pois se trata de cálculos demasiadamente complexos para indivíduos tão pequenos.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que sabem que nada sabem.