A partir da idéia de Heráclito, o psquiatra C .G. Jung, explicou a revolta do espírito dos homens e mulheres modernos diante da exaltação dos valores deste mundo em detrimento dos valores espirituais. Jung afirmava que a alma humana é movida por opostos, necessidades e instintos, e que a tensão entre eles é o elemento gerador de vitalidade e criatividade. Seguindo essa lógica, toda vez que uma tendência oprime o seu oposto, essa tal tendência oposta, em algum momento inicia uma revolta, afim de encontrar novamente o equilíbrio.
Como a opressão de um castigador desperta a revolta do oprimido, assim também se comporta o espírito humano quando oprimido por alguma tendência. Por isso, o triunfo do racionalismo, construiu um mundo de pessoas desiludidas, famintas pelas "coisas do espírito", e que agora reinvindicam o direito de simplesmente "sentir", de descobrir-se, de navegar pelos misteriosos mares de sua existência.
Pensando nisso, o que dizer sobre os anos de mutilação, de padronização dos indivíduos, de arregimentação manipulativa por parte das instituições eclesiásticas? Que tipo de revolta essas não provocariam no espírito humano? Não me espanta a tão frequente desistência por parte de muitos, em construir uma vida religiosa "dentro" de uma Igreja. Está crescendo o movimento "ser Igreja", guiado pela necessidade de dedicar atenção aos oprimidos deste mundo, exaltando o amor como única Lei suprema, abandonando os dogmas e valorizando o encontro com Deus na interioridade. Essa é a tentativa do espírito humano de equilibrar as coisas. Ora, deste movimento sou adepto, pois para mim jamais houve outro movimento senão esse mesmo.
O que me preocupa é que outrora me alegrei ao ver os que despertavam para o real sentido do Evangelho e que viam para além da hipocrisia institucional, mas hoje entristeço-me ao ver o rumo que alguns tem tomado. Esses que, tendo começado bem, estão terminando mal, e muito mal, vêm nulificando a própria existência, presunçosamente cavando com os pés seus próprios abismos. Correndo para o extremo oposto do que se tem visto em muitas instituições religiosas, como a alienação social, a coagem dos mosquitos aliada ao saboreio dos camelos, a dominação dos líderes sobre seus liderados, a ideologia do "Deus disse para não comerdes de toda a árvore do jardim (Gn. 3: 1)", cujo idealizador foi o próprio Satanás; e nessa corrida, estão abrindo-se para o ativismo, para o "tudo pode" inconsequente, para o "ninguém é de ninguém", e assim não vão sendo nem mesmo de Cristo. São pirralhos, deviam se unir ao cantor Alexandre Pires em sua indagação: "O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade [...]?". Parece que não sabem viver livres.
Tais são moleques de pinto "en-cãibra-do", pois viveram uma vida tão regida pelas normas da religião, pelas tormentas culpabilizadoras, pelos "não pode", que agora resolveram chutar o pau da barraca, se tornarem livres de todo comprometimento com a Lei, relativizam-a toda. São como moleques que, de tão reprimidos, quando se vêem livres das proibições neuróticas, das endemonizações sexuais, passam a sofrer de "cãibra no pinto", decorrente de suas tantas masturbações existênciais.
Descobrem que beber não é pecado como lhe haviam anteriormente ensinado, então enchem a cara, pegam todas, curtem suas baladinhas descompromissadas, e vão cuidar dos pobres no dia seguinte (afinal é SOMENTE isso que importa, não é?). Se afastam tanto da fé, que já não mais oram, pensam que é tudo neurose religiosa, lêem a bíblia somente para debatê-la, pois agora tem Marx para ampará-los. Por compreenderem (e corretamente o fazem) como malina a dicotomia sagrado x profano, lançam-se à profanidade, não acompanham o Mestre nem uma hora sequer. O apóstolo Paulo desesperançosamente, lhes diria: "Assim como nunca me obedeceram, sei que muito menos agora em minha ausência, virão a me obedecer, pois não tem temor algum por coisa nenhuma". Não suportam uma única exortação. Abandonaram todo e qualquer referêncial.
Moleques! Saibam que não fomos chamados para a hipocrisia, e muito menos para a libertinagem. Não sabem que quem serve ao pecado é dele escravo? E a quem vocês servem? Veja como gozam e já não sentem prazer algum, como estão presos a Cristo somente por discurso, mas fazem do próprio corpo instrumento de impurezas, e da vida razão de escândalo para os pequeninos. Peço a vocês que relativizem sim todas as coisas, mas relativizem-nas pelo amor. O amor é capaz de relativizar toda ética e moral, qualquer outro sentimento que busque fazê-lo, levedará toda a massa, principalmente a presunção sapiencial. Pois, de que vale saber que não é pecado ouvir "música do mundo"? Somente o prazer de desrespeitar os mais conservadores? Tentarás a consciência alheia porque a sua está limpa? Como lhes mostrarão a verdade?
Vejam se não é assim que muitos tem vivido. Fogem da vigilância ditatorial das instituições hipócritas, afim de se verem livres para agirem como quiserem. São libertinos. Julgam saber muito, mas nada sabem como convém saber. Seus ancestrais são os coríntios, inchados pelo saber, de tal modo arrogantes, permitem entre eles impurezas tais que escandalizam até mesmo os incrédulos.
Irmãos, não fale em amor sem amar. Em amor, o Mestre sujeitou-se à Lei e também enfrentou seus defensores (da Lei) quando fora necessário, mas em tudo buscou salvar a todos. Assim como Paulo, que O imitou, busquemos, não o nosso próprio querer, mas o de muitos, para que sejam salvos. A todos que outrora tinham a religião como vosso senhor, assenhoreiem agora e sempre a Cristo em vossos corações, com temor e tremor, pois a Ele, todos prestaremos conta.
Por mais um dos que nEle lutam para manter-se equilibrados num mundo de opostos.