sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Graça - a cura da alma




“Entrando Jesus num barco, passou para o outro lado e foi para a sua própria cidade. E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso coração? Pois que é mais fácil? Dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados – disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. E, levantando-se, partiu para sua casa. Vendo isto, as multidões, maravilhados, glorificaram a Deus, que dera tal autoridade (gr. exousia) aos homens.Mateus 9: 1-8

Sem qualquer ritual, sem qualquer mandinga, sem meditação reforçada, sem reencarnação, sem sacrifícios de homens, só pelo sacrifício de um, do próprio Deus. Essa é a justiça da graça. No que concerne ao homem está apenas o ato de recebê-la, de mãos vazias e alma cheia, sem oferecer nada em troca, sem carregar na alma a angústia e o peso da autojustificação, sem a agonia da luta contra a Lei, apenas o alívio gracioso que vêm dos céus e que se estabelece no coração do indivíduo tornando-o um “ser”. Quem entende, sabe que curar um paralítico não se compara a isso, quem entende que a alma carece de graça não julga ser mais difícil dizer ao paralítico que se “levante e ande” do que “seus pecados estão perdoados”. Aqueles, porém, que pensam de si além do que convém, que julgam-se capazes de pagar com seu próprio esforço os seus pecados, que pensam que seus rituais são suficientes para dizerem que os pecados se foram, esses sempre julgaram serem maiores os milagres do que o perdão gracioso, e isso porque desconhecem tal perdão pois para eles perdão é sempre fruto de seus sacrifícios, de seus esforços.

Esses são os que não aceitam os publicanos e pecadores na mesa com Jesus, são os que exigem que seja levado o animal a ser sacrificado no templo, são os que pensam que a menos que suas mãos tenham derramado o sangue da oferta pelos pecados do outro ele não está perdoado, que a menos que possam dizer: “pela minha oração, você está perdoado”, o perdão não aconteceu. Esses julgam ser grande coisa um paralítico andar, isso porque para eles é impossível fazer que isso aconteça, mas acham que um pecador ser perdoado de seus pecados é simples, afinal, basta que ele siga a cartilha deles e alcançará seu perdão.

Jesus mostrou que o perdão é maior que a cura, isso porque nenhuma dor física se compara à dor que dói na alma. Se a alma está sarada, perdoada, livre de culpa e angústia, então o corpo, ainda que debilitado ou deficiente, estará bem, porém se o contrário ocorre então tudo estará mal, pois de nada adianta ter pernas que andam e uma alma ancorada na angústia; de nada adianta ter braços sadios se eles servirão de instrumentos para que se mate alguém; de nada adianta poder falar se da boca somente fluir torpeza, ofensa, fofoca e calúnia; de nada adianta ter olhos que vêem se não são capazes de contemplar a beleza do mundo; pois braços que batem, ainda que perfeitos, são deficientes; línguas que urdem enganos, ainda que pronunciando tagarelamente muitas palavras, não emitem som algum; olhos que só contemplam a desgraça e a destruição, ainda que não necessitem de óculos, não vêem.

A ofensa feita ao Pai foi perdoada no Filho, o que saiu de Sua boca aos enfermos da humanidade foi simplesmente: “Os seus pecados estão perdoados”. E aos que recebem tal perdão Ele diz que o “que ligarem na terra, será ligado nos céus”, e também que “se de alguns perdoarem os pecados, ser-lhe-ão perdoados, se lhos retiverem, serão retidos”. Assim como o Filho perdoou a ofensa, tendo sido enviado pelo Pai, Ele também enviou seus irmãos, como procuradores dos interesses de Deus (gr. exousia), a fim de que perdoassem a ofensa dos homens a Deus (seus pecados) como se tivessem sido feitas à eles mesmos.

É-nos dado então o poder de reter ou libertar a qualquer que caminhe pela terra, é-nos dado o poder de perdoar qualquer assassino, prostituta, ladrão, viciado, pedófilo, e qualquer outro pecador de alma angustiada, que caminha por essa terra como errante, sem rumo e sofrendo o peso de sua própria existência; sim, é-nos dado poder de perdoar a esses “Cains”, mentirosos, invejosos e homicidas. O poder de perdoar qualquer ofensa feita a Deus, de perdoar qualquer ofensa feita a qualquer outro desses indivíduos criados à Sua imagem e semelhança, é-nos dado esse poder, o poder de libertar almas cativas, oprimidas, angustiadas, que caminham carregando fardos pesados que as cansam, o poder de levar alívio para esses, de dar-lhes descanso, esse é o poder que maravilha a qualquer um que o compreende, a autoridade de perdoar os pecados.

Esse é o perdão sem sacerdotes, pois a pedra que serve de base para esse perdão é justamente a afirmação de que em Cristo estão todos perdoados, por isso é concedido sem padre, pastor, bispo, diácono, rabino, sem benção de espíritos que já partiram dessa para outra, sem tomar “passe” de pai-de-santo, é simplesmente sob o sacerdócio de um, do Cristo. Está consumado na cruz, e não necessita de acréscimo, assim resta-nos apenas a satisfação e a honra de propagarmos essa mensagem, de ver gente respirando aliviada com esse perdão, de ver a alegria surgindo no rosto antes entristecido, de ver abraços reconciliatórios ardentes e totalmente desprendidos de mágoa, e agradecidos glorificarmos a Deus pelo ministério que nos concedeu, o ministério da reconciliação, dos homens com Ele, e também dos homens com outros homens e dos homens consigo mesmos, pois é isso que acontece quando o homem se encontra em paz com Deus.