terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Estou cansado

Estou cansado da mesma coisa sempre, das reuniões formatadas, dos “aleluias” programados, das emoções forçadas, dos estupros às almas feridas, dos cultos irracionais, da santidade hipócrita, da reprodução daquela mesma mensagem enganosa fundamentada sabe lá no que, da fuga do “mundo” tendo como refúgio a “igreja”, da necessidade de mostrar para todos que a vida agora é outra, que os vícios ficaram para trás, do preconceito que quanto às palavras se mantém calado, mas aos atos fala mais alto que o amor, da rotina religiosa medíocre formada pela exposição superficial e simplista da palavra, e que nada produz na mente, alma ou espírito de quem ouve, formada pelos cânticos antropocêntricos, que mais servem para animar shows do que para alegrar a alma do homem no seu Deus, da rotina que não torna o espírito do indivíduo voluntário e pré-disposto ao amor, da doutrina moral que se faz menos eficaz do que os pensamentos filosóficos da atualidade, do desprezo à espiritualidade do Evangelho, do descaso ao conhecimento de Deus, da exaltação ao amor próprio, à auto-preservação, à busca pelo conforto, estou cansado da manutenção desse conforto, estou cansado dessa conformação com as coisas deste século, estou cansado da desistência por parte da grande maioria em transformar-se pela renovação da mente, estou cansado das mentes vazias, das ovelhas dos homens e não de Deus, dos que “não tocam nos ungidos” para preservar a própria existência dentro da vida eclesiástica, dos que amam mais a si mesmos, a seus superiores, a suas famílias, a seus amigos do que a Jesus, dos que desprezam a Bondade, a Misericórdia e a Graça de Deus, para viverem pela Lei, para terem com o que julgarem, maltratarem, apavorarem e dominarem outros homens, estou cansado desse retorno à era das trevas, onde falta conhecimento e sobra alienação, onde falta amor e sobram dogmas, onde falta humildade e transborda soberba, estou cansado disso tudo.

Quem dera fosse diferente, as reuniões não fossem um compromisso, mas uma necessidade, os “aleluias” não fossem parte de um pacote de espiritualidade, mas a explosão de um sentimento que se firma na vida de cada um, que as enfermidades da alma fossem respeitadas e curadas com cuidado, não tratadas com descaso, com paleativos a fim de que os feridos estejam sempre por ali, como viciados atrás de droga, que o que fosse dito tivesse fundamento, que a ignorância das pessoas não fosse preservada, nem usada como alicerce para se construir falsas doutrinas, que fossemos outros ao invés de parecermos outros, que vivêssemos uma nova vida, ao invés de trocarmos o molde da mesma, que todos estivessem “nus” se envergonhar-se, fracos, pecadores, imperfeitos, e não tivéssemos vergonha disso, que não tentássemos coser folhas para esconder nossas fraquezas, que Cristo fosse tudo, que o Evangelho de Deus fosse-nos suficiente, sem qualquer alegoria, sem qualquer adereço, que o amor não fosse fingido, que a manifestação dele não fosse organizada logisticamente, que não tivéssemos ministérios para abraçar, para acolher, para se preocupar, para procurar saber, para chorar, para interceder, mas que todos tivéssemos a mesma dor, o mesmo choro, o mesmo gozo, o mesmo riso, que saíssemos da infância, que enjoássemos do leite, que nos alimentássemos de comida, que os filósofos aprendessem conosco a viver, que os antropólogos, sociólogos e psicólogos nos pedissem ensinamentos, e não nós a eles, que a sociedade não definisse quem devemos ser, mas nós definíssemos como ela deveria ser, que não houvesse sacerdote maior que Cristo, que Ele fosse o cabeça e nós somente o corpo, que entendêssemos o valor da Graça, e não amássemos nem usássemos a Lei em favor da opressão e do domínio, que não ignorássemos a sabedoria, e fôssemos todos alinhados pela Verdade, não alienados à Ela.

Pai, vivifique, una, transforme, guie, cure, guarde a Tua igreja. Que o amor seja nosso vínculo, Cristo o nosso centro, e o Evangelho seja a nossa alegria, em nome de Jesus. Amém.

Por Gustavo Marchetti, mais um que está farto do engano.