sábado, 26 de fevereiro de 2011

Onde estaria Eu? - Stênio Marcius


Onde estaria Eu?
Stênio Marcius

Lá vem um Homem
Saiu de um beco
Desceu a rua
Cruzou a praça

Em direção ao templo vai
Ai meu Deus!
Traz um chicote nos ombros
Trançado por suas mãos

Lá vem um Deus
Vem decidido
Indignado
Zelo incontido

Quem ousaria então cruzar seu caminho?
Vai começar seu juízo
E é pela casa de Deus

Voa cadeira, voa barraca
Voa mesa e moeda

Passa boiada, passam ovelhas
E os devotos da barganha

Corre quem vende, corre quem compra
Corre quem intermedia

Mas o que foi alí orar, permaneceu

Mas e eu, sinceramente, onde estaria eu?
Ajoelhado e contrito ou correndo com medo de Deus?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Morte não é um Fim em Si Mesma


“E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte.”
Romanos 7.10

O “Cristão” atual é muito diferente do original. Faço questão de escrever “Cristão”, dessa forma, porque o significado que esta palavra carrega, atualmente, se distanciou demais da sua etimologia, do seu sentido. “Cristão” não bebe. “Cristão” não fuma. “Cristão” não ouve musica secular. “Cristão” não fala palavrão. “Cristão” não acha graça dos outros, porque não se assenta na roda dos escarnecedores. Esse é o “Cristão”. Tão vivo quanto uma estátua pode ser.

Paulo nos fala deste mandamento, que era para vida, mas ele achou que era para sua morte. Paulo enxergou os mandamentos sob a perspectiva do “não”. Ele era fariseu, criado aos cuidados de Gamaliel. Estava acostumado a coar mosquitos e engolir camelos. Quando enxergamos os mandamentos sobre essa perspectiva, encontramos um monte de morte. Olhamos apenas para o que devemos deixar de fazer. Morrer é deixar de fazer. Morto faz tudo o que o “Cristão” faz, ou seja: Não faz nada. Se é apenas para deixar de beber, fumar, drogar e se prostituir, mate o cidadão! Te garanto que isso torna tudo mais fácil.

Quando entendemos que toda morte, no cristianismo verdadeiro, é para gerar vida, todo processo de paralisação será destruído. Eu paro de beber, mas começo a orar. Eu paro de semear contendas, mas começo a pregar o Evangelho. Eu paro de me prostituir, mas começo a amar a pessoa incondicionalmente, independente do que ela possa me oferecer. O mandamento não é para a morte. O mandamento é para vida. Então viva. Se a morte que há em você não está gerando vida, comece a orar nesse sentido. É possível que não seja uma morte que deva ser morrida. Se o grão de trigo morre, ele deve produzir fruto. Se não produz fruto, pode ser que não seja um trigo morrendo. Talvez uma pedra. Talvez uma casca vazia. Mas não uma semente.

Vinícius Santos Albuquerque

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Não dê festas esperando presentes




Leia Lucas 14: 7: 14

Aquele que se assenta nas primeiras cadeiras busca exaltar-se, pensa ser o mais importante da festa. Jesus afirma que tal pensamento é reprovável, na realidade a postura correta deve ser a de assentar-se por último, julgando a si mesmo como o menos importante, aguardando que aquele que o convidou o ponha a frente. A honra a ser buscada deve ser essa. Que Dele venha o meu louvor.
Foi na observância cotidiana que Jesus apresentou aos homens a intenção de seus corações, a busca pelos primeiros lugares é freqüentemente observável em nossa vida cotidiana. O desejo que brota do coração humano é sempre o mesmo, “que eu receba mais honra que ele”. Certamente não há um pregador do evangelho que não tenha sofrido com isso, não há um músico cristão que nunca tenha buscado o primeiro lugar na competição com seus amigos-irmãos-rivais musicais, não há um filho que não busque o primeiro lugar no coração da mãe, não há um religioso que não bata palma para si mesmo diante de seus atos de justiça, como já fora dito em outro lugar nesse blog, todos nós carecemos de reconhecimento e por isso todos os nossos atos são feitos com essa finalidade.
A advertência do Mestre para nós é que vivamos nossas vidas com a consciência de que todo aquele que se exalta será humilhado, pois no Dia em que Aquele que nos convidou para Seu casamento vier, dirá àqueles que se pensavam sendo os convidados mais importantes da festa: “Dá o lugar a este”, e “este” é com certeza aquele a quem tal homem julgava ser o menos importante, pois o que se humilha será exaltado.
Como se esse entendimento não fosse suficiente, o Mestre ainda apresenta a forma prática de se viver humildemente, pois “quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado”. Sejam seus atos para o outro sem visar a recompensa que os mesmos podem te dar ou eu poderia dizer para que não dê festas esperando presentes. Melhor que isso é “convidar os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos”, e a alegria alcançada será justamente no fato de eles não terem com o que te recompensar.
Sob essa perspectiva, de que minha recompensa virá na ressurreição dos justos, meus atos passam a ser para o outro visando suas necessidades, e não para o outro, mas visando as minhas necessidades. De modo que minha alegria não estará no fato de eu ser honrado por homens pelo meu trabalho, mas no fato de os homens não terem como me retribuir de nenhum modo que me satisfaça, para que somente de Deus venha meu louvor. Todas as vezes que a glória humana lhe servir de retribuição por seu trabalho você já terá recebido o seu galardão, quando nenhum aplauso lhe for satisfatório, nem mesmo o seu, aí sim, você terá cometido um ato de justiça. Tente.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que não querem querendo os aplausos dos homens.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

No stress




“Porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes. [...] Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras?” (Lucas 12: 23, 25-26)

De que me adiantará o alimento se não houver vida em minha alma? Morto não come, porque morto não precisa comer. O que Jesus quer deixar claro é que se há alguma razão para nos preocuparmos, essa razão deveria ser pela vida, pois o que você tem que seja mais importante que a mesma? De fato, para um morto, de que importa se a geladeira está cheia ou se o guarda-roupa mais parece uma loja de grife?
E sendo a vida meu bem mais precioso, teria como eu prolongá-la se vivesse ansioso pela mesma? Tem como eu viver mais só porque me preocupo em viver? Podem minhas dietas e horas na academia me fazerem realmente viver mais? Atletas morrem subitamente no exercício de sua profissão, e jovens perdem a vida sem qualquer aviso. As trancas na porta de minha casa são realmente razão de segurança para mim? São elas que me sustentam a vida?
Estou afirmando que buscar ansiosamente uma vida saudável e precavida não o levará a viver mais, isso é ilusão, se quer fazê-lo é excelente que o faça, mas saiba que morrerá exatamente no dia em que tiver que morrer, e nada poderá fazer para mudar isso. Pois sabemos que nenhum pardal cairá em terra sem o consentimento do Pai, e que nós valemos mais do que muitos pardais, de modo que nossa vida é sustentada por Ele assim como por Seu consentimento nos é tirada, e descansar nisso faz com que eu não esteja ansioso pela mesma.
Logo, se nada há que eu possa fazer pelas coisas mínimas, em outras palavras, se nada há que possa ser feito para prolongar minha vida nem um côvado sequer, então não há razão outra que seja suficiente para preocupar-me. Somente para quem caminha nesse entendimento é possível buscar o Reino em primeiro lugar, sem ansiedade, sem inquietação, simples assim: NO STRESS.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que tem a vida nas mãos Dele e que diante disso não andam ansiosos por coisa alguma.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Amar é viver e viver é amar

Falar do amor de Deus não é nada fácil. Não é fácil explicar como alguém pode enviar um único filho pra morrer por pessoas que ao menos reconhecem esse ato. Pelo contrario, pessoas que se acham dignas de receber tal amor e ainda querem mais. Como explicar um amor que é tão simples e complexo ao mesmo tempo? Um amor que é tão puro?

Fomos ao Vale do Jequitinhonha com a intenção de falar do amor de Cristo. Esse amor que nos sustenta nos perdoa e nos salva. Mas aprendemos sobre um amor que nos une, nos alegra, que nos mostra quão indignos somos, mas que mesmo assim não nos deixa.

Aprendemos que não é necessário ter roupas bonitas, casas perfeitas, alimentos sofisticados para saber que Deus nos ama. Ele nos permite respirar, e isso já é uma demonstração do Seu amor.

Mas, será que ao menos somos gratos por isso? Gratos de verdade? Será que paramos para pensar em tudo que Deus nos deu e nos dá? Será que já agradecemos por isso? Ou será que só nos queixamos por não ser do jeito que queremos?

Percebemos que o amor de Cristo é muito mais do que falar do “amor de Cristo”. É viver. Lá no Vale nós não ouvíamos desse amor, nós víamos o amor em cada pessoa que conhecemos. Com a dona Maria Enilza aprendi que o amor de Cristo se faz num abraço, num sorriso. Com o Seu Manuelito, que o amor de Cristo se faz todo dia, quando reconhecemos que tudo que temos foi ele que nos deu. E não queremos mais não, o que Ele nos dá é simplesmente perfeito pra nós, porque é fruto do Seu amor. Com a Dona Armezina, aprendi que o amor de Cristo se faz numa conversa, no simples fato de sentar e escutar o que a outra pessoa precisa falar. Com o Manuel, aprendi como um amor puro perdoa sem ao menos querer algo em troca. Com a Júlia aprendi que o Amor de Cristo independe da religião.

Ele amou a todos, e isso basta. Cristo nos amou, nos perdoou, nos deu salvação, e o que damos a Ele? Estamos ligados a uma igreja, a um corpo; damos o dizimo; nos momentos certos cumprimentamos o irmão do lado, dizemos “Deus te abençoe” com um sorriso no rosto; não faltamos um culto sequer. E é isso. Por isso tudo somos dignos do amor de Cristo. Sinto muito, mas nada disso significa amar. O dízimo dado é realmente de gratidão a Deus pelo sustento financeiro que ele nos garante, ou é por uma obrigação religiosa? Ou até por pensar que é uma troca, eu dou 10% e assim garanto o mês que vem?

Ao cumprimentar o irmão do lado, pedimos a Deus que o abençoe de coração ou da boca pra fora? Abraçamos como manifestação do amor ou como uma figuração? Estamos vindo para a igreja por obrigação, por cumprimento de regras e aparências, ou temos dentro de nós uma vontade insaciável de estar perto de nossos irmãos e de ouvir a palavra de Deus?

Amar é bem mais que isso.

Temos que abrir nossos olhos para as pequenas demonstrações de amor que Deus nos dá e responder a esse amor. Por exemplo, há quanto tempo, em sua orações, você lembrou do irmão que senta atrás de você na igreja? Quanto tempo? 20 minutos? Três dias? Um mês? Nunca orou?

Quando amamos alguém temos o desejo de estar perto o tempo todo, e nos momentos em que não estamos, sentimos falta, e quando lembramos de algum momento juntos, nosso coração se enche de gratidão por Deus ter nos permitido conhecer tal pessoa. Por acaso é esse sentimento que você tem pelo irmão que está lá do outro lado da igreja?

Aprendi com um povo simples, um povo que não tem nada, mas que sabe o que é amar, que o que Deus realmente quer é que amemos uns aos outros. É dar um abraço firme, sincero, que não tem pressa de largar. É agradecer pelo que tem e dividir o que tem com quem não tem nada. Se você tem um pão e a pessoa do lado não tem nada, não é tão simples repartir esse pão e saciar um pouco da fome dos dois?

Fazendo isso você ama porque você se negou uma satisfação total pela outra pessoa. E quem recebe, recebe meio pão com amor, sem reclamações por ser pouco, mas pelo contrario se alegra nesse amor. Amar ao próximo é sentar e ouvir, sentar e conversar, é simplesmente sentar do lado da pessoa como forma de falar: “estou aqui, se precisar conte comigo!”. É respeitar as escolhas da pessoa. Não importa se ela é da mesma igreja, se é da mesma cidade, se concorda com você, se veste como você, se utiliza a mesma forma de falar, se os pensamentos são os mesmos, nada disso importa. Respeite pelo amor que você tem. E se em tudo isso ele difere de você, não tente mudá-lo, apenas o ame, o amor é capaz de transformar tudo. E talvez quem precise ser mudado não é ele e sim você.

Hoje tudo que tenho para falar sobre o Amor de Cristo é que ele me alcançou. Ele não olhou meus erros, minhas fraquezas, nada. Apenas me amou. E eu como forma de responder a Ele, entendo que tenho que amar os meus irmãos, da mesma forma que Cristo, sem olhar os defeitos, as falhas, apenas amar. Por que assim estará sendo cumprido o ide, de pregar o Evangelho, pregar o que Deus demonstrou a todos entregando o Seu Filho por amor a nós.

Por Karolina Sarmento

Não temais pequenino rebanho




“Não temais, ó pequenino rebanho, porque o Pai se agradou em dar-vos o Seu Reino.(Lucas 12: 32)”

Busquem o Reino e não temam não encontrá-lo,
pois o Pai se agradou em o dar a vocês, ó pequenino rebanho...
que confia que as demais coisas lhe serão acrescentadas...
que, tendo essa consciência, vende seus bens e dá esmolas,
pois considera a vida mais que o alimento e o corpo mais que as vestes,
e assim não guarda o que tem em bolsas que podem ser roubadas,
mas repartindo o que tem, enche sua bolsa incorruptível de tesouros
que jamais enferrujarão.

Desprenda-te, ó pequenino rebanho, das amarras de Mamom,
ponha teu coração no Reino e livre-se dele.
Pois não poderás estar dividido entre os dois,
ou entrarás na loucura de perseguir o lucro com sua ansiedade,
ou entenderá que nada há do que tenha que não possa ser chamado de nosso.
E se é nosso, é de todos,
e se é de todos já não é mais meu,
e o que não é meu já não pode de mim ser retirado,
e se assim for, para aonde irá minha ansiedade?

Ó pequenino rebanho,
o Pai lhes concederá o que necessitais,
não por vossa fé, que é pouca,
mas por Seu amor que é grande por vós,
e que O faz considerá-los mais que os lírios e os pássaros.
Por isso tendes fé, ao menos para que entrem no descanso de Sua provisão,
onde não há ansiedade nem inquietação,
onde podeis dar o que tens sem se preocupar com o dia de amanhã.

Por Gustavo Marchetti, mais um do pequenino, incrédulo e amado rebanho de Deus.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O pão nosso de cada dia nos basta hoje?



“Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida do homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.” (ver Lucas 12: 13-34)

O campo daquele homem rico produziu com abundância, mas a preocupação dele ainda era onde guardaria o que produziu. Esse homem não consegue viver sem olhar para frente, para o quanto ainda pode guardar, para o quanto poderá reservar para o futuro. De modo que sua conclusão mais sábia é: “[...] destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens”. Não é óbvio? Se assim ele fizesse poderia certamente descansar e usufruir os benefícios de seu trabalho. Mas o que Deus lhe diz é que isso é loucura. Salomão diria que isso é vaidade e correr atrás do vento.
Que isso é uma grande bobagem todos nós sabemos, porém isso não faz com que deixemos de planejar um futuro seguro e tranqüilo para nossas “vidas”.
Mas se o Mestre disse que a vida não consiste nessas coisas, porque então devo planejar minha vida de tal forma?

Minha perspectiva de vida deve ser sob a ótica do progresso, em busca do conforto derivado das riquezas?

Não é a insaciabilidade de nossa fome pela alegria material que nos angustia e nos deixa ansiosos?

Não são os grandes projetos de paz financeira e descanso que fazem com que surjam as grandes empresas dominadoras de homens?

Nossa moral não é sempre corrompida pelo sonho capitalista de se alcançar a felicidade quando tiver o que se quer?

Não são essas coisas que nos tornam tão mesquinhos a ponto de perdermos nossas almas, sentimentos?

É certo que SE o Senhor quiser nós “viveremos e faremos isso ou aquilo”, de modo que SE não acontecer não fará a menor diferença. Isso é não viver apoiado em projetos humanos, confiante apenas que se tem aquilo que se tem no dia, vivendo com o que se tem hoje, dando graças ao Provedor, pois basta a cada dia o seu mal.

Devo tão somente ver em mim se as pulsões capitalistas em meu interior estão me conduzindo a correr atrás da felicidade e do conforto material. Será que só poderei dizer a minha alma: “Alegra-te”, amanhã e se amanhã eu estiver tranqüilo o suficiente para dizer isso? Ou me alegrarei ainda que a figueira não floresça?

O pão nosso de cada dia nos basta hoje?

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que buscam confiar no Pai, que sabe do que REALMENTE necessitamos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Hoje eu sei, Ele é amor.

Tenho ouvido muito a palavra RELIGIÃO, e me pergunto se de fato estive ou estou envolvida por esta “praga”.
Será que tenho sido assim, uma religiosa?
Até alguns meses atrás nunca me fiz esta pergunta, talvez pelo mesmo motivo que um porco não se questiona se está em um chiqueiro. Na realidade do porco, a vida e o ambiente em que vive são agradáveis, pois é a única coisa que conhece.
Mas se um dia alguém chegar pra um porco e disser que existe um fazendeiro que pega os seus porquinhos e dá um banho, coloca roupinha nova e depois leva para um cercado onde tem boa comida, carinho e amor, será que ele mudaria de ambiente? Mesmo tendo por natureza comer lixo, e estando envolto na lama, seria possível uma mudança de habitat?
Será que nos tirar da lama é apenas nos colocar em uma igreja e nos vestir com roupas novas é apenas dá-nos carro, emprego, e o amor que necessitamos é apenas sair após o culto com meus colegas? Será que mudar o ambiente muda quem sou? Não vou querer sempre voltar para a lama?

Pra mim sempre foi difícil enxergar o amor.

Tenho ótimos pais, que sempre cuidaram de mim e me amaram. Minha mãe sempre me paparicou, tentando me agradar em tudo. Sempre fui amada em casa, mas era pra ser filha única e isto não aconteceu. Aprouve a Deus me dá uma irmã, linda e especial. Minha mana sempre foi o meu paradoxo, extrovertida, carinhosa, esforçada em casa e com os familiares, fora de casa era popular e sempre tinha vários carinhas atrás dela. Comparações sempre aconteciam e mesmo sem querer um complexo de inferioridade foi crescendo dentro de mim.
Olhar pra ela e vê o que eu não conseguia ser me deixava frustrada e os comentários, mesmo por brincadeira, me deixavam triste, mas ela tinha defeitos e em cima deles eu criei meu mundo. Tornei-me a filha “perfeitinha” que não desobedecia aos pais e dava “conselhos morais” para minha mãe e minha irmã. Freqüentava os cultos na igreja, participava das orações, dos conjuntos, não ficava com os “carinhas” e assim fui criando uma imagem de santa, boazinha, tornei-me “a crente”, a “varoa valorosa”, a “mulher de Deus”. Resolvi sair de meu chiqueiro interior para habitar em um lugar mais limpo, onde eu era aceita e respeitada: resolvi habitar por inteiro a igreja.
Mas quantos pensamentos maus, desejos encubados, palavras de defesa guardada, afinal não podia responder as pessoas porque tinha que ser aceita, quantas opiniões deixada de lado apenas para parecer ser “a santa”.
Mas na realidade a santa é podre, é nojenta, invejosa, egoísta, ciumenta, medrosa, tímida, orgulhosa, cheia de pensamentos maus, enfim é humana. Mas como trazer para a superfície tudo isto? Não dá, eu precisava esconder, pois era vergonhoso demais, e se ninguém me aceitasse? O pior disso é que eu não conseguia imaginar Deus amando uma pessoa assim, então pra um Deus Santo aceitar uma merda como eu, a merda precisava ser limpa.
Começou assim a saga da limpeza exterior. Muitas orações, tentativas de jejuns, mas como passava mal não agüentava ficar muito tempo, então a culpa só aumentava, afinal eu não conseguia oferecer um sacrifício digno pra Deus. Quanta idiotice, meu Deus. Cada dia me tornava mais a menina boa, a religiosa e por dentro com uma sensação de culpa gigantesca, porque só eu saiba quem era de fato.
Mas chegou o grande dia, quando o Bom pastor ou Bom samaritano veio e estendeu a mão para mim. Estava caída, toda arrebentada (por dentro), fedendo a religiosidade, com camadas de máscaras totalmente sem expressão. Ele veio, mostrando que sua graça me bastava, que seu amor não precisava ser comprado ou questionado, mas apenas aceito.
Como me questionei perguntando se não ia ser preciso dar nada depois, pagar de alguma forma para ser participante da sua misericórdia. Mas a cada dia Ele tem me ensinado que nunca vou conseguir pagar, e que nem preciso me preocupar com isto, porque seu sangue na cruz já me purificou e que só preciso proceder (sem obrigação) dá mesma forma que Ele agiu comigo, ou seja, amando.
De fato não sei como amar, mas tenho buscado isto. Todo dia tropeço, julgo pessoas, não amo, não respeito e não cuido, entre outras coisas, e vejo a conseqüência dos meus atos, sei que é normal colher as conseqüências dos meus erros, mas não preciso ficar remoendo meu passado, pois Ele já me perdoou.
Ele me ensinou que viver um dia de cada vez torna os fardos mais leves porque vou conseguir perceber que naquele dia só preciso dEle e que Sua graça me basta. Minha oração é, portanto, que toda podridão seja retirada, e que sempre que preciso que Ele me mostre quem eu sou de fato. Que Ele me ensine a amar, perdoar, e a aceitar Seu amor, não por quem sou, mas por quem Ele é. Ele é o que é, Ele é amor, e isto me basta, pois Ele me ama, mesmo vendo o chiqueiro, e a podridão na qual minha alma habita.
Por Lorhenna Souza.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O homem que caiu nas mãos dos salteadores.



“E eis que certo homem, doutor da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna*?

Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto Lhe respondeu:

Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma,

de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento;

e amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Então Jesus lhe disse: Respondeste corretamente, faze isto e viverás. Ele, porém querendo se justificar, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? Jesus prosseguiu, dizendo:

Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo; semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia seu caminho, passou perto e, vendo-o, se compadeceu dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.

Qual destes três homens te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu-Lhe o intérprete da Lei: O que teve misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo.(Lucas 10: 25-37)

Caído no chão, sem nada, sem ninguém, sem esperança e semimorto.

Ao ouvir essa parábola certamente buscamos nunca sermos achados no lugar do sacerdote ou do levita, dos homens religiosos que desciam do templo após oferecerem seus sacrifícios, dos homens de caminho fixo, do templo para casa e de casa para o templo, dos homens que tem a religião como instrumento purificador de consciência e não como essência do ser, que oferecem sacrifícios, mas se esquecem de exercitar a misericórdia. Não queremos mesmo ser os indivíduos hipócritas que sempre estão ocupados demais para perceber um homem caído no chão, ainda que na maioria das vezes seja exatamente o que somos.

Então buscamos ser o personagem principal da história: o Bom Samaritano. Queremos ser aquele indivíduo cujo caminho não é importante demais para que ele se esqueça dos que encontra caídos na estrada, queremos ser o “mocinho”, que tem compaixão, que entende que o amor vai além das desavenças religiosas, isso é o que queremos ser: PERFEITOS, amando a todos de igual modo. Deste modo fixamos na parede de nossa consciência um quadro onde a figura do Bom Samaritano está estampada, como sendo nosso alvo, nossa LEI, afinal de contas temos que amar o próximo como a nós mesmos, assim como fez o Bom Samaritano.

Porém, o que Jesus queria com essa parábola não era explicar a Lei, fixando-a novamente como alvo no coração daquele legalista. Ele queria apresentar a realidade daquele homem, a fim de que ele compreendesse que a Lei só se cumpre se a consciência que se tem de si mesmo for renovada pelo Evangelho. A perspectiva pela qual se deve observar essa parábola então é essa: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?”, essa é a paráfrase de Jesus para a pergunta feita pelo doutor da lei [“Quem é o meu próximo?”]. De modo que respondendo uma pergunta, a outra também se responde.

“O que usou de misericórdia para com ele”, em outras palavras O Samaritano, esse é o próximo do doutor da lei, mas esse nome nem foi considerado digno de ser dito por ele. Judeus e samaritanos não se davam, como afirma João, e segundo a parábola foi justamente o samaritano que se compadeceu do homem ferido. Isso, todavia, não foi somente uma afronta aos conceitos daquele homem, mas um conselho capaz de mudar totalmente sua vida. Depender do Samaritano endemoninhado [como Jesus fora chamado em outro momento], era a moral da história. Ter aquele a quem ele queria fazer tropeçar [pondo-O à prova] como seu próximo e receber Dele misericórdia, ao invés de ajudá-Lo - como na maioria das vezes pensamos ser - era o que poderia destruir seu orgulho religioso e fazê-lo voltar a viver.

Eis então o personagem no qual devemos nos encaixar para compreender tal parábola:

O homem que caiu nas mãos dos salteadores.

Somente quem se encontrar caído no chão, carente de auxílio, de alguém que lhe traga de volta a vida, quem cure suas feridas e guarde-o em segurança, estará apto a caminhar no caminho que se chama amor. Era isso que o doutor da lei não compreendia, que o necessário é aceitar o braço estendido do Bom Samaritano, deixá-Lo cuidar de você, curá-lo e guardá-lo até que Ele volte. Quem entende que estava caído no chão mendigando a vida eterna (*v. 25), quando for restaurado pelo Bom Samaritano, vai e procede do mesmo modo para com os outros, pois “nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o ‘Bom Samaritano’ como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros”.

Sem essa consciência, amar o próximo é a Lei submetida à nossa vaidade, é dar os bens aos pobres e não ter amor. É buscar na Lei alcançar a vida eterna e tê-la retirada de si pelos salteadores que se chamam “arrogância e soberba”. É conhecer a Lei e permanecer semimorto, pois, a menos que se receba o auxílio do Bom Samaritano, permaneceremos jogados na estrada, a mercê da religião, que jamais nos curará as feridas ou nos guardará.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que foram resgatados para a vida pelo Bom Samaritano.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Tendo Tudo Sem Ser Dono de Nada

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns”

Atos 4.32

“Mamãe... Eu quero”, diz a criança com poucos anos de idade, que ainda pronuncia mal as palavras. Desde pequenos somos hipnotizados para vivermos em um sistema de trocas e posses. A idéia de posse e de barganha está na cultura do homem. Nossos filhos são ensinados assim. “Se você não fizer bagunça, papai leva você pra tomar sorvete”. Assim, aprendemos que os relacionamentos se baseiam na troca, no escambo.

É assim que os professores se relacionam com os seus alunos; é assim que os pais se relacionam com os filhos; é assim que os casais se relacionam entre si; é assim que os patrões se relacionam com seus funcionários. “O que é meu, é meu. Não pode ser dado de graça”. Eis o problema que temos para aceitar a graça divina.

Deus, em sua soberania, escolhe dar o Seu Filho, simplesmente porque ama, e ama porque ama, e ponto final. E mais: Ele ainda pede que esta mesma atitude seja repetida em nós, em nossos relacionamentos. Ele pede que você dê ao que te pede, e não te desvies de quem te pede emprestado. Ele pede que você perdoe aqueles que te ofenderam, assim como você foi perdoado por Ele. E isso só é possível quando se considera tudo o que é seu como sendo dos outros.

O benefício de viver assim é simples: A sua irritabilidade diminuirá até desaparecer. Se considero a minha paciência como sendo do homem mais chato da empresa, não serei irritado por ele. Se considero o meu tempo como sendo da minha família, não ficarei chateado se as minhas programações forem frustradas. Ao crescer nesta consciência, estaremos crescendo em graça. Tudo é de todos. Nada é meu.

Quando vivo numa comunidade que tem esta consciência, terei sempre tudo sem ser dono de nada. O que eu tenho é só o que os outros me dão e o que os outros têm é só o que lhes dou. O sentimento de possessão é destruído à medida que a minha consciência cresce nesta direção. Passe pelas parábolas e por Atos dos Apóstolos. Você não verá nada além de pessoas se fazendo dependentes de outras sendo exaltadas e pessoas que se fazem independentes sendo condenadas.


Vinícius Santos Albuquerque

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Rebele-se


Um grito ecoa no deserto e o clamor é por arrependimento, a todos, em todas as esferas sociais, o grito é para que endireitem suas veredas.

Aos religiosos, que se arrependam de sua prepotência, da arrogância de quem bate no peito pensando ser alguma coisa, de quem se gloria na Lei e nela descansa, que com a boca profere arrependimento, mas no coração não demonstra qualquer desejo por mudança, pois decorou o “script” da religião de tal modo a impedir que os verdadeiros preceitos da mesma penetrem no mais profundo de sua alma.

Ao cidadão comum, que se arrependa de ter uma consciência cauterizada [pelas ofertas da sociedade] a ponto de impedir que a misericórdia encha teu ser. Este critica o governo, mas aceita os benefícios que a miséria do outro pode lhe conceder, pensa que só porque PODE ter, ele DEVE ter, busca o seu direito e ignora o dos outros.

Ao que tem domínio sobre o outro, que se arrependa por usar tal domínio para oprimir, para explorar, para submeter, para subornar. Este usa o outro como escada e tapete, ele bate no mais fraco, explora o menor.

Ao que pensa que pode sobrepor-se a valores morais por possuir valores materiais, que disto se arrependa. Este pensa que pode ter tudo, inclusive a mulher de seu irmão, não há leis para ele, não há barreiras para seu querer.

João Batista gritou no deserto contra a religião prepotente, contra a apatia social, contra a opressão do mais forte e contra a banalização da moralidade. Ele mostrou que todos os setores da sociedade necessitavam de uma reforma, a casa toda deveria ser arrumada, desde os vales da miséria, que deveriam ser aterrados com compaixão e misericórdia, aos montes da altivez, que deveriam ser nivelados com humildade e abnegação. Desde o simples trabalhador ao governador de Jerusalém, passando pelos líderes religiosos, soldados e cobradores de impostos, todos deveriam arrepender-se do modo pelo qual procediam.

João propôs uma revolução, em cada setor da sociedade, uma rebelião contra o “império humano” a fim da que, em caminho plano, viesse o Reino dos Céus. Este é o anúncio da chegada do Messias. Jesus veio para consolidar o Reino de Deus na Terra. Ele é a consumação do Reino, Ele é a plenitude do Reino, de modo que qualquer um que, ouvindo a pregação de João, iniciasse uma revolução em seus próprios valores, tornar-se-ia apto a ouvir de bom grado as palavras do Mestre, e assim receberia o Evangelho.

Essa rebeldia contra os sofismas sociais é necessária ainda nos dias de hoje, só é possível aprofundar-se na compreensão do Evangelho a partir dela. É necessário rebelar-se contra o sentimento vanglorioso que provém da religião, contra o descanso nos dogmas, contra a pretensiosa auto-justificação. É necessário rebelar-se contra o sentimento de “eu não tenho nada a ver com isso”, que se instala em nós, e nos torna sem compaixão ou misericórdia, contra as mensagens capitalistas que dominam nossas mentes, forçando-nos a crer que necessitamos mais do que realmente necessitamos, e que nos fazem gastarmos nosso tempo em shoppings, entre risos ilusórios, enquanto outros choram lágrimas reais, em seus casebres mal feitos. É necessário nos rebelarmos contra o sentimento animal que nos diz que podemos oprimir o mais fraco, seja ele um amigo, parente, cliente ou funcionário. É necessário nos rebelarmos contra o desejo pelo que é do outro, contra a vontade de pularmos o cercado de nosso irmão para pegarmos o que estiver por lá, e assim compreendermos que cada um tem seu espaço e que devemos respeitá-lo.

Rebele-se, não contra o sistema eclesiástico, não contra o governo, não contra os policiais corruptos, não contra os que derrubam a moral da sociedade, mas contra si mesmo, contra o que há desses grupos dentro de você, pois afirmo que todos somos hipócritas, sem misericórdia, opressores e cobiçosos tanto quanto eles, por isso todos devemos nos arrepender.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que tem seus valores invertidos pelo Evangelho.