terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Hoje eu sei, Ele é amor.

Tenho ouvido muito a palavra RELIGIÃO, e me pergunto se de fato estive ou estou envolvida por esta “praga”.
Será que tenho sido assim, uma religiosa?
Até alguns meses atrás nunca me fiz esta pergunta, talvez pelo mesmo motivo que um porco não se questiona se está em um chiqueiro. Na realidade do porco, a vida e o ambiente em que vive são agradáveis, pois é a única coisa que conhece.
Mas se um dia alguém chegar pra um porco e disser que existe um fazendeiro que pega os seus porquinhos e dá um banho, coloca roupinha nova e depois leva para um cercado onde tem boa comida, carinho e amor, será que ele mudaria de ambiente? Mesmo tendo por natureza comer lixo, e estando envolto na lama, seria possível uma mudança de habitat?
Será que nos tirar da lama é apenas nos colocar em uma igreja e nos vestir com roupas novas é apenas dá-nos carro, emprego, e o amor que necessitamos é apenas sair após o culto com meus colegas? Será que mudar o ambiente muda quem sou? Não vou querer sempre voltar para a lama?

Pra mim sempre foi difícil enxergar o amor.

Tenho ótimos pais, que sempre cuidaram de mim e me amaram. Minha mãe sempre me paparicou, tentando me agradar em tudo. Sempre fui amada em casa, mas era pra ser filha única e isto não aconteceu. Aprouve a Deus me dá uma irmã, linda e especial. Minha mana sempre foi o meu paradoxo, extrovertida, carinhosa, esforçada em casa e com os familiares, fora de casa era popular e sempre tinha vários carinhas atrás dela. Comparações sempre aconteciam e mesmo sem querer um complexo de inferioridade foi crescendo dentro de mim.
Olhar pra ela e vê o que eu não conseguia ser me deixava frustrada e os comentários, mesmo por brincadeira, me deixavam triste, mas ela tinha defeitos e em cima deles eu criei meu mundo. Tornei-me a filha “perfeitinha” que não desobedecia aos pais e dava “conselhos morais” para minha mãe e minha irmã. Freqüentava os cultos na igreja, participava das orações, dos conjuntos, não ficava com os “carinhas” e assim fui criando uma imagem de santa, boazinha, tornei-me “a crente”, a “varoa valorosa”, a “mulher de Deus”. Resolvi sair de meu chiqueiro interior para habitar em um lugar mais limpo, onde eu era aceita e respeitada: resolvi habitar por inteiro a igreja.
Mas quantos pensamentos maus, desejos encubados, palavras de defesa guardada, afinal não podia responder as pessoas porque tinha que ser aceita, quantas opiniões deixada de lado apenas para parecer ser “a santa”.
Mas na realidade a santa é podre, é nojenta, invejosa, egoísta, ciumenta, medrosa, tímida, orgulhosa, cheia de pensamentos maus, enfim é humana. Mas como trazer para a superfície tudo isto? Não dá, eu precisava esconder, pois era vergonhoso demais, e se ninguém me aceitasse? O pior disso é que eu não conseguia imaginar Deus amando uma pessoa assim, então pra um Deus Santo aceitar uma merda como eu, a merda precisava ser limpa.
Começou assim a saga da limpeza exterior. Muitas orações, tentativas de jejuns, mas como passava mal não agüentava ficar muito tempo, então a culpa só aumentava, afinal eu não conseguia oferecer um sacrifício digno pra Deus. Quanta idiotice, meu Deus. Cada dia me tornava mais a menina boa, a religiosa e por dentro com uma sensação de culpa gigantesca, porque só eu saiba quem era de fato.
Mas chegou o grande dia, quando o Bom pastor ou Bom samaritano veio e estendeu a mão para mim. Estava caída, toda arrebentada (por dentro), fedendo a religiosidade, com camadas de máscaras totalmente sem expressão. Ele veio, mostrando que sua graça me bastava, que seu amor não precisava ser comprado ou questionado, mas apenas aceito.
Como me questionei perguntando se não ia ser preciso dar nada depois, pagar de alguma forma para ser participante da sua misericórdia. Mas a cada dia Ele tem me ensinado que nunca vou conseguir pagar, e que nem preciso me preocupar com isto, porque seu sangue na cruz já me purificou e que só preciso proceder (sem obrigação) dá mesma forma que Ele agiu comigo, ou seja, amando.
De fato não sei como amar, mas tenho buscado isto. Todo dia tropeço, julgo pessoas, não amo, não respeito e não cuido, entre outras coisas, e vejo a conseqüência dos meus atos, sei que é normal colher as conseqüências dos meus erros, mas não preciso ficar remoendo meu passado, pois Ele já me perdoou.
Ele me ensinou que viver um dia de cada vez torna os fardos mais leves porque vou conseguir perceber que naquele dia só preciso dEle e que Sua graça me basta. Minha oração é, portanto, que toda podridão seja retirada, e que sempre que preciso que Ele me mostre quem eu sou de fato. Que Ele me ensine a amar, perdoar, e a aceitar Seu amor, não por quem sou, mas por quem Ele é. Ele é o que é, Ele é amor, e isto me basta, pois Ele me ama, mesmo vendo o chiqueiro, e a podridão na qual minha alma habita.
Por Lorhenna Souza.