domingo, 6 de fevereiro de 2011

Rebele-se


Um grito ecoa no deserto e o clamor é por arrependimento, a todos, em todas as esferas sociais, o grito é para que endireitem suas veredas.

Aos religiosos, que se arrependam de sua prepotência, da arrogância de quem bate no peito pensando ser alguma coisa, de quem se gloria na Lei e nela descansa, que com a boca profere arrependimento, mas no coração não demonstra qualquer desejo por mudança, pois decorou o “script” da religião de tal modo a impedir que os verdadeiros preceitos da mesma penetrem no mais profundo de sua alma.

Ao cidadão comum, que se arrependa de ter uma consciência cauterizada [pelas ofertas da sociedade] a ponto de impedir que a misericórdia encha teu ser. Este critica o governo, mas aceita os benefícios que a miséria do outro pode lhe conceder, pensa que só porque PODE ter, ele DEVE ter, busca o seu direito e ignora o dos outros.

Ao que tem domínio sobre o outro, que se arrependa por usar tal domínio para oprimir, para explorar, para submeter, para subornar. Este usa o outro como escada e tapete, ele bate no mais fraco, explora o menor.

Ao que pensa que pode sobrepor-se a valores morais por possuir valores materiais, que disto se arrependa. Este pensa que pode ter tudo, inclusive a mulher de seu irmão, não há leis para ele, não há barreiras para seu querer.

João Batista gritou no deserto contra a religião prepotente, contra a apatia social, contra a opressão do mais forte e contra a banalização da moralidade. Ele mostrou que todos os setores da sociedade necessitavam de uma reforma, a casa toda deveria ser arrumada, desde os vales da miséria, que deveriam ser aterrados com compaixão e misericórdia, aos montes da altivez, que deveriam ser nivelados com humildade e abnegação. Desde o simples trabalhador ao governador de Jerusalém, passando pelos líderes religiosos, soldados e cobradores de impostos, todos deveriam arrepender-se do modo pelo qual procediam.

João propôs uma revolução, em cada setor da sociedade, uma rebelião contra o “império humano” a fim da que, em caminho plano, viesse o Reino dos Céus. Este é o anúncio da chegada do Messias. Jesus veio para consolidar o Reino de Deus na Terra. Ele é a consumação do Reino, Ele é a plenitude do Reino, de modo que qualquer um que, ouvindo a pregação de João, iniciasse uma revolução em seus próprios valores, tornar-se-ia apto a ouvir de bom grado as palavras do Mestre, e assim receberia o Evangelho.

Essa rebeldia contra os sofismas sociais é necessária ainda nos dias de hoje, só é possível aprofundar-se na compreensão do Evangelho a partir dela. É necessário rebelar-se contra o sentimento vanglorioso que provém da religião, contra o descanso nos dogmas, contra a pretensiosa auto-justificação. É necessário rebelar-se contra o sentimento de “eu não tenho nada a ver com isso”, que se instala em nós, e nos torna sem compaixão ou misericórdia, contra as mensagens capitalistas que dominam nossas mentes, forçando-nos a crer que necessitamos mais do que realmente necessitamos, e que nos fazem gastarmos nosso tempo em shoppings, entre risos ilusórios, enquanto outros choram lágrimas reais, em seus casebres mal feitos. É necessário nos rebelarmos contra o sentimento animal que nos diz que podemos oprimir o mais fraco, seja ele um amigo, parente, cliente ou funcionário. É necessário nos rebelarmos contra o desejo pelo que é do outro, contra a vontade de pularmos o cercado de nosso irmão para pegarmos o que estiver por lá, e assim compreendermos que cada um tem seu espaço e que devemos respeitá-lo.

Rebele-se, não contra o sistema eclesiástico, não contra o governo, não contra os policiais corruptos, não contra os que derrubam a moral da sociedade, mas contra si mesmo, contra o que há desses grupos dentro de você, pois afirmo que todos somos hipócritas, sem misericórdia, opressores e cobiçosos tanto quanto eles, por isso todos devemos nos arrepender.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que tem seus valores invertidos pelo Evangelho.