sábado, 12 de fevereiro de 2011

O homem que caiu nas mãos dos salteadores.



“E eis que certo homem, doutor da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna*?

Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto Lhe respondeu:

Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma,

de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento;

e amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Então Jesus lhe disse: Respondeste corretamente, faze isto e viverás. Ele, porém querendo se justificar, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? Jesus prosseguiu, dizendo:

Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo; semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia seu caminho, passou perto e, vendo-o, se compadeceu dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.

Qual destes três homens te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu-Lhe o intérprete da Lei: O que teve misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo.(Lucas 10: 25-37)

Caído no chão, sem nada, sem ninguém, sem esperança e semimorto.

Ao ouvir essa parábola certamente buscamos nunca sermos achados no lugar do sacerdote ou do levita, dos homens religiosos que desciam do templo após oferecerem seus sacrifícios, dos homens de caminho fixo, do templo para casa e de casa para o templo, dos homens que tem a religião como instrumento purificador de consciência e não como essência do ser, que oferecem sacrifícios, mas se esquecem de exercitar a misericórdia. Não queremos mesmo ser os indivíduos hipócritas que sempre estão ocupados demais para perceber um homem caído no chão, ainda que na maioria das vezes seja exatamente o que somos.

Então buscamos ser o personagem principal da história: o Bom Samaritano. Queremos ser aquele indivíduo cujo caminho não é importante demais para que ele se esqueça dos que encontra caídos na estrada, queremos ser o “mocinho”, que tem compaixão, que entende que o amor vai além das desavenças religiosas, isso é o que queremos ser: PERFEITOS, amando a todos de igual modo. Deste modo fixamos na parede de nossa consciência um quadro onde a figura do Bom Samaritano está estampada, como sendo nosso alvo, nossa LEI, afinal de contas temos que amar o próximo como a nós mesmos, assim como fez o Bom Samaritano.

Porém, o que Jesus queria com essa parábola não era explicar a Lei, fixando-a novamente como alvo no coração daquele legalista. Ele queria apresentar a realidade daquele homem, a fim de que ele compreendesse que a Lei só se cumpre se a consciência que se tem de si mesmo for renovada pelo Evangelho. A perspectiva pela qual se deve observar essa parábola então é essa: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?”, essa é a paráfrase de Jesus para a pergunta feita pelo doutor da lei [“Quem é o meu próximo?”]. De modo que respondendo uma pergunta, a outra também se responde.

“O que usou de misericórdia para com ele”, em outras palavras O Samaritano, esse é o próximo do doutor da lei, mas esse nome nem foi considerado digno de ser dito por ele. Judeus e samaritanos não se davam, como afirma João, e segundo a parábola foi justamente o samaritano que se compadeceu do homem ferido. Isso, todavia, não foi somente uma afronta aos conceitos daquele homem, mas um conselho capaz de mudar totalmente sua vida. Depender do Samaritano endemoninhado [como Jesus fora chamado em outro momento], era a moral da história. Ter aquele a quem ele queria fazer tropeçar [pondo-O à prova] como seu próximo e receber Dele misericórdia, ao invés de ajudá-Lo - como na maioria das vezes pensamos ser - era o que poderia destruir seu orgulho religioso e fazê-lo voltar a viver.

Eis então o personagem no qual devemos nos encaixar para compreender tal parábola:

O homem que caiu nas mãos dos salteadores.

Somente quem se encontrar caído no chão, carente de auxílio, de alguém que lhe traga de volta a vida, quem cure suas feridas e guarde-o em segurança, estará apto a caminhar no caminho que se chama amor. Era isso que o doutor da lei não compreendia, que o necessário é aceitar o braço estendido do Bom Samaritano, deixá-Lo cuidar de você, curá-lo e guardá-lo até que Ele volte. Quem entende que estava caído no chão mendigando a vida eterna (*v. 25), quando for restaurado pelo Bom Samaritano, vai e procede do mesmo modo para com os outros, pois “nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o ‘Bom Samaritano’ como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros”.

Sem essa consciência, amar o próximo é a Lei submetida à nossa vaidade, é dar os bens aos pobres e não ter amor. É buscar na Lei alcançar a vida eterna e tê-la retirada de si pelos salteadores que se chamam “arrogância e soberba”. É conhecer a Lei e permanecer semimorto, pois, a menos que se receba o auxílio do Bom Samaritano, permaneceremos jogados na estrada, a mercê da religião, que jamais nos curará as feridas ou nos guardará.

Por Gustavo Marchetti, mais um dos que foram resgatados para a vida pelo Bom Samaritano.