quinta-feira, 2 de junho de 2011

Domine os fatos ou eles te dominarão


Desimpregnar-se de si e aceitar que a vida não se curva diante de nossas vontades [pois "o coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos" - Pv. 16: 9], pode ser a mais dolorosa experiência humana. Saibamos, pois, que é o coração do homem quem escreve os caminhos de sua própria vida [e aqui não trato de teologia, simplesmente "falo como homem"]. Vida cinzenta e triste para os que maximizam sua dor por não abrir mão de suas vontades, vida colorida e radiante para os que compreendem que nada sabem do que realmente deva ser sabido [portanto entregam-se a Deus, confiando que Ele sabe], e assim compreendem os fatos que lhe ocorrem, dominando-os [cientes de que "o coração alegre é como o bom remédio, mas o espírito abatido seca até os ossos" - Pv. 17: 22].

Nesse aspecto, de onde virá a alegria do meu coração? Será de outro lugar senão da gratidão ao Deus que salva gratuitamente [Hc. 3: 18]? Dele tudo vem, e de graça vem, ora, se o que tenho me é dado não porque mereço, mas gratuitamente, não devo então, querer nada que não me seja dado. A vida se vive em gratidão, ou pelo menos deve-se viver, e não entre murmúrios ingratos. Só assim tu "não cobiçarás".

Não compreender isso produz nos crentes de hoje em dia certa revolta-manhosa-de-filho-mimado com relação a Deus. Os discursos que salientam o fato de que "Deus concederá os desejos do teu coração" - portanto, cobice ele o que quiser -, apartam, os ouvintes de tais mensagens, da sanidade que abraça a todos os que, gratos, se voltam para Deus. Desse modo, temos crentes loucos, entregues às suas paixões pathos-lógicas [que secam até os ossos], cobiçando [o que não lhes é concedido], invejando [o que não lhes pertence] e lançado-se em combates e guerras [confiando em si mesmos] para conquistar seus sonhos adúlteros [Tg. 4: 2-4].

Estes confiam sem confiar, confiam em Deus como quem faz figa, como quem O usa como auxílio supersticioso afim de que aconteça o que eles querem que aconteça em algum momento, e enquanto isso não acontece, dizem estar "descansando em Deus", mas apenas descansam em sua própria esperança adúltera, agarram-se a seus próprios planos e desprezam o Senhor como guia de seus passos. São dominados pelos fatos que a vida lhes apresenta, se enrijecem por seus desejos imutáveis e intratáveis.

Não há outra forma de fugir disso senão "sujeitando-se a Deus", pois Ele "dá graça aos humildes, mas resiste aos soberbos" que pensam saber de alguma coisa. Só então, "resistiremos ao diabo, de modo que ele fuja de nós", somente quando dermos razão a Deus, como Senhor soberano e desfrutarmos, com gratidão, tudo o que temos recebido. Se não for assim, o diabo não encontrará resistência em nossas vidas, antes, encontrará auxílio, tornar-se-á colega de trabalho de cada um de nós.

Portanto, "sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida" (Pv. 4: 23), dê razão a Deus em Seus caminhos, abra mão da vida patológica de quem deseja o que deseja, e isso o faz até que os ossos sequem, resista assim ao demônio adúltero que habita dentro de si [você mesmo], e então, e somente então, resista ao diabo, e ele certamente fugirá de ti.

Por mais um dos que querem-querer-o-que-Deus-quer-que-eles-queiram, e nada além disso.