sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que você vai ser quando você des-SER

Ao menino se pergunta: O que você vai ser quando você crescer? Isso se dá porque a criança é vista pela perspectiva do "vir a ser". A criança não é, em nossa sociedade, considerada um ser completo, mas em construção. Sua fala é desprezada, seus anseios moldados, sua opinião é sempre invalidada em detrimento da opinião dos mais velhos. Parece-me que à medida em que se apropria do mundo, dos símbolos, da fala, das artes, do conhecimento, dos diplomas, dos trabalhos, etc, e começa a expressar-se e impor-se diante de todos, é que as consideramos alguém, como um ser. Nesse sentido, vemos que, para nós, alguém é aquilo que faz ou fez, que conquista ou conquistou, que sabe, que domina. Quem não possui tais características ainda deverá "vir a ser", e se virá a ser, é porque ainda não "é".

Para Jesus, no entanto, o "vir a ser" que importa é outro. De Seu ponto de vista é um "vir a descer", ou poderia dizer que seria um vir a  "des-SER". É um caminho de humilhação, para Ele subir é ir para baixo, ser grande é ser o menor, amadurecer é tornar-se uma criança. 

Vir a des-SER, é a desconstrução de tudo aquilo que lhe construiu sem de fato ser você mesmo. O jovem rico não era um rico, nem um piedoso, era um homem sedento pela eternidade, mas negou-a por amar mais aquilo que ele mesmo não era, aquela projeção idolátrica de si mesmo. Vender tudo e dar aos pobres, para ele, era equivalente a quebrar os ídolos do paganismo e do moralismo que se havia nele impregnado como visão de mundo correta. "Minha riqueza é a prova de que Deus está comigo" - talvez ele dizia em seu íntimo - "Sou fiel aos mandamentos". Riqueza, fama e piedade eram para ele o ponto máximo que um homem poderia alcançar, ainda que a alma lhe reclamasse o desejo de vir a ser ("que farei para herdar a vida eterna?"), apresentando-se faltoso, carente de algo.

Os discípulos também se afligiram com o mesmo desejo de "vir a ser", eles perguntaram a Jesus sobre quem seria "o maior no Reino dos Céus". Extremamente inundados por essa visão de mundo competitiva, de opressores e oprimidos, de maiorais, de grandeza. Mas Jesus lhes desanima com a seguinte afirmação:"Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus". Imagine eles querendo saber qual deles era o maior e de repente são chamados a se converterem, do caso contrário nem passariam pela porta do Reino dos Céus. Jesus acaba com o concurso para "melhor discípulo do mês" organizado por Pedrão e companhia, dizendo que aqueles que não estavam inscritos é que deveriam ser imitados. Sim, as crianças, os pequeninos de coração humilde. Ainda não tomados pelo repugnante desejo de serem grandes, ainda não influenciados pelos discursos de "você tem que ser o maior" propagandeados pelo mundo. Apenas cientes de sua pequenez, da miudeza de seu ser, sem ter do que gloriar-se em si mesmo, diante de ninguém.

Por isso é que cabe à todos os que cresceram e se tornaram grandes, que agora sonhem os "sonhos de Deus" para si, sonhem vir a "des-SER" tudo o que construíram em volta de si, e que não é de fato o "eu" deles. Tornem-se eles mesmos, pequeninos, como eram antes de almejarem conquistar o mundo inteiro para si. Sejam o que eram antes de terem perdido a própria alma com a finalidade de conquistar todas as coisas à sua volta. Sim, é possível conquistar o mundo inteiro e se perder eternamente. Sim, sejam pastores de ovelhas ao invés de administradores de empresa no comércio da fé. Sejam homens que amem suas esposas e filhos ao invés de ambiciosos correndo atrás do conforto inalcansável. Sejam pecadores salvos pela graça ao invés de religiosos caçadores de prosélitos para uma fé que nem mesmo vivem. Sejam que eram antes de almejarem tornar-se grandes conquistadores.

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